Capítulo 6

O sol ainda não surgia completamente quando cheguei à Torre Moretti. O dia prometia ser longo, e eu sabia disso. Para ser sincera, eu não estava especialmente disposta a interagir com ninguém, só desejava fazer meu trabalho em paz, o mais rápido possível.

Camila já estava na sala de reuniões, organizando pastas com eficiência silenciosa.

— Bom dia, Helena — disse ela, sem me olhar. — Dante pediu para revisar o cronograma antes da reunião com os investidores.

— Obrigada, Camila — murmurei, sentindo o peso do alerta que ele havia enviado na mensagem anterior.

A sala de reuniões estava quase vazia quando Dante entrou. O relógio marcava 8h45. Camisa azul escura, gravata solta, o ar de CEO impecável misturado àquele charme perigoso que me deixava… não sei.

— Bom dia — disse, aproximando-se. O sorriso era discreto, mas carregava a mesma tensão que eu sentia toda vez que ele falava comigo.

— Bom dia, Dante — respondi, tentando parecer confiante.

Enquanto revisávamos os últimos detalhes para a apresentação aos investidores, Ricardo entrou, sério como sempre.

— Sr. Moretti, há uma atualização sobre os materiais do saguão. Alguns fornecedores questionaram mudanças de última hora — disse ele, entregando uma pasta. “Claro que questionaram”, pensei, revirando os olhos.

Dante pegou e folheou rapidamente, os olhos atentos.

— Obrigado, Ricardo. Helena, acho que vamos precisar do seu toque final. — Ele lançou um olhar que fez meu coração acelerar, mas me lembrei: profissionalismo primeiro.

Camila observava em silêncio, anotando cada detalhe. Ela era eficiente, mas havia algo na forma como ela olhava para Dante e para mim, quase como se adivinhasse a tensão não dita. Maldita criança.

— Parece que teremos algumas… interferências — disse Dante, baixando a voz.

— Interferências externas? — perguntei, curiosa e preocupada ao mesmo tempo.

— Sim — respondeu ele. — Nem todos estão felizes com o meu envolvimento pessoal nesse projeto. Alguns querem que ele falhe.

Meu estômago apertou. Era exatamente aquilo que eu temia: alguém estava tentando sabotar não só o projeto, mas a confiança que começávamos a construir. Eu não queria desconfiar de alguém, mas era quase inevitável…

— Alguma suspeita? — perguntei.

— Ainda não — disse ele, inclinando-se sobre a mesa. — Mas vou descobrir.

A reunião com os investidores começou pontualmente às 10h. O salão estava cheio de homens e mulheres de ternos caros, olhares calculistas, cada um com interesses próprios. Enquanto Dante apresentava, percebi olhares atentos em cada gesto meu.

— Helena — murmurou Dante em algum momento —, observe atentamente a reação deles.

— Estou observando — respondi, tentando manter a voz firme, mas o toque da mão dele ao passar-me uma folha de papel fez meu coração disparar.

No meio da apresentação, um pequeno deslize: a pasta com os novos layouts foi trocada por engano. Um detalhe mínimo, mas suficiente para criar caos.

— Hum — murmurou um dos investidores mais críticos. — Isso não é o que esperávamos.

Dante trocou um olhar rápido comigo. Sem palavras, ele disse: “Continue como planejado.”

Respirei fundo, ajustando as explicações. Cada detalhe contado com cuidado, cada justificativa entregue com precisão. Sabíamos que alguém estava tentando nos testar e, de novo, eu não estava em um bom dia para ser testada por um bando de idiotas.

Após a reunião, Dante me conduziu a uma sala privada.

— Bom trabalho — disse, aproximando-se. — Nem todos teriam lidado com isso tão bem.

— Obrigada — respondi, mas o calor da sua proximidade me deixava nervosa.

Ele tocou levemente meu braço, apenas um gesto, mas carregado de intenção.

— Está aprendendo rápido — disse, a voz baixa. — E confesso, gosto de ver você desafiando as expectativas.

— É só… experiência — retruquei, tentando afastar a tensão crescente.

— Experiência ou coragem? — perguntou ele, inclinando-se um pouco mais.

Meu coração disparou. Não havia espaço para neutralidade entre nós; a tensão sensual era inevitável.

Camila entrou discretamente, trazendo cafés. Cafés.

— Aqui — disse ela, com um sorriso rápido. — Para manter a energia.

Dante tomou seu café, mas não tirou os olhos de mim.

— Você percebeu algo estranho na reunião? — perguntou, a voz quase roçando na minha.

— Apenas olhares atentos demais — murmurei. — Nada que eu não conseguisse lidar.

Ele sorriu de lado, e a proximidade fez meu estômago apertar de novo.

— Lidar é uma questão de perspectiva — disse. — E, às vezes, precisamos confiar em instintos.

No caminho de volta para meu escritório, notei Ricardo observando cada passo nosso, anotando algo em seu caderno.

— Helena — murmurou Dante, baixando a voz —, temos que manter atenção em todos. Este projeto não é apenas sobre design. É sobre estratégia.

Suspirei. Estava começando a entender a dimensão real do que me envolvi: não se tratava apenas de arquitetura. Era jogo de poder. Quando fechei a porta do meu escritório, olhei pela janela. A cidade parecia pequena e frágil, mas eu sabia que meu mundo tinha acabado de se expandir para algo muito mais intenso. A tensão não era apenas profissional. Era pessoal. E cada gesto, cada toque, cada olhar compartilhado com Dante se tornava um jogo de sedução e sobrevivência.

Antes de sentar, recebi uma mensagem no celular:

"Nem tudo é o que parece. Confie, mas observe. — D."

O aviso era claro. Ele sabia que eu perceberia as pequenas sabotagens, que sentiria cada detalhe do jogo. Enquanto olhava para o céu cinza, percebi que Dante Moretti não era apenas um problema, como eu suspeitava. Ele era quase uma necessidade. 

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