Capítulo 4

O sol ainda estava baixo quando cheguei à Torre Moretti. O ar frio da manhã me acordava melhor do que qualquer café, e não de um jeito bom. Nota mental: checar a previsão do tempo no dia anterior. No hall, a recepcionista sorriu, entregando meu crachá sem precisar de palavras: parecia que ela já sabia que eu viria quase todos os dias daquela semana.

 — Bom dia, Helena. O Sr. Moretti já a espera na sala de reuniões. — Assenti, tentando parecer mais segura do que estava. Entrei no elevador e senti a ansiedade crescer. Cada encontro com Dante tinha o mesmo efeito: eletrizante, desconfortável e… impossível de ignorar. Ao abrir a porta da sala de reuniões, ele estava lá, de pé, olhando o horizonte da cidade. Notei que ele era realmente muito observador, em todas as situações. Talvez ele tivesse a visão de um artista. Como eu.

Camisa azul clara, mangas dobradas, expressão concentrada. Quando ele me viu, sorriu de lado, aquele sorriso que era um misto de intenções impossíveis de entender.

— Bom dia, Helena.

— Bom dia, Dante. — Não nos cumprimentamos com aperto de mão desta vez; apenas um olhar que durou segundos demais.

— Hoje quero que me mostre como você imagina o saguão — disse ele. — Quero sentir a energia que você coloca nos projetos. — Não pude evitar uma risada ao ouvir o papo de energia. Não era muito a cara dele, afinal.

Enquanto eu abria o portfólio, ele passou a examinar cada detalhe, cada linha, cada amostra de material.

— Vejo que você mantém a elegância até nas escolhas mais simples — disse, inclinando-se para observar melhor uma textura de tecido.

— É só trabalho — retruquei, tentando manter a voz firme. Mas meu coração apertou.

No meio da sala, alguém entrou: uma mulher jovem, cabelo castanho em um corte moderno, óculos de aro grosso.

— Bom dia, senhor Moretti. Helena — disse com um sorriso rápido —. Sou Camila, sua assistente de projetos. Vou acompanhar vocês hoje.

— Prazer, Camila — disse, apertando a mão dela.

— Igualmente — respondi, tentando parecer acolhedora, mas sem deixar de notar que a jovem tinha aquele olhar curioso

Dante arqueou uma sobrancelha, divertindo-se com a presença da assistente.

— Excelente. Camila será nossa ponte entre ideias e execução. Confio nela.

Enquanto isso, percebi que Camila me estudava discretamente.

— Você não precisa olhar tanto — murmurei.

Ela sorriu, nada intimidada:

— É impossível não notar quando há química no ar.

Engoli em seco, sentindo a tensão crescer ainda mais.

— Química? — Dante repetiu, com um sorriso malicioso que fez minhas bochechas esquentarem.

— Apenas uma observação — respondeu a jovem, deixando claro que não era a única a perceber.

A reunião evoluiu para visitas aos andares da torre, medindo espaços, discutindo fluxos de circulação e iluminação. Dante estava perto o suficiente para sentir o calor da minha pele, mas longe o suficiente para manter a etiqueta do CEO.

— Helena, venha aqui — chamou, apontando para a área do saguão.

Enquanto me inclinava para mostrar a disposição dos assentos, ele se aproximou. O braço dele quase tocou o meu. Por pouco não encostou de fato. O calor de sua presença me envolveu como uma armadilha silenciosa.

— Vejo que você pensa em cada detalhe — disse ele, baixo, sem olhar para mim diretamente.

— É meu trabalho — respondi, tentando esconder a própria admiração.

Por trás de Dante, notei outro homem: mais velho, terno cinza escuro, aparência séria. Ele nos observava com um caderno na mão.

— Sr. Moretti, preciso alertá-lo sobre um detalhe do contrato — disse, com um tom que misturava cautela e autoridade. — Alguns investidores podem questionar certos custos extras se não forem justificados.

— Obrigado, Ricardo — Dante respondeu, sem perder o ritmo. — Vamos revisar juntos.

Ricardo assentiu, mas não saiu do campo de visão. Eu percebi: ele seria um coadjuvante crucial. Alguém que poderia ser aliado… ou obstáculo.

Voltando à sala de reuniões, Camila trouxe café e água. O ambiente estava mais relaxado, mas o ar entre mim e Dante parecia eletrificado.

— Sabe — ele começou, apoiando-se na mesa —, Helena, você me lembra alguém.

— Sério? Quem? — perguntei, desconfiada.

Ele deu de ombros, sorrindo de lado.

— Alguém que não se deixa intimidar. Que luta pelo que acredita, mesmo quando tudo indica que deveria desistir.

O comentário me atingiu mais do que esperava.

— Imagino que seja raro encontrar pessoas assim em sua vida — disse, tentando soar casual.

Ele se aproximou um pouco, mais do que o necessário, mas sem cruzar limites.

— Não é comum — respondeu, e por um instante, seu olhar se fixou no meu de forma intensa. — Mas quando aparecem, a gente percebe.

O toque do braço dele contra o meu enquanto entregava uma amostra de material fez meu coração disparar. Eu me sentia a porra de uma adolescente sentindo aquelas coisas.

No final da tarde, quando a equipe começou a se dispersar, Camila me olhou com um sorriso cúmplice.

— Tenha cuidado com ele — disse baixinho. — Dante sabe exatamente o efeito que causa.

— Isso eu já percebi — murmurei, mas não consegui esconder o tremor na voz.

Enquanto saíamos do prédio, Dante caminhou ao meu lado, mas sem tocar.

— Helena, amanhã quero ver as revisões finais. E… — parou por um instante, olhando-me de lado —, agradeço por não ter se afastado depois de saber da minha família.

Suspirei, olhando para a rua molhada.

— Não é uma questão de família — respondi. — É uma questão de… resultados.

Ele sorriu, mas havia algo na expressão dele que dizia que ele entendia mais do que eu queria admitir.

Quando entrei no carro, percebi o que estava acontecendo: estava envolvida demais. E parte de mim sabia que aquela proximidade, mesmo profissional, tinha o potencial de me destruir… ou me fazer sentir viva novamente.

E o pior de tudo: eu não sabia qual das duas opções eu desejava mais.

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