Capítulo 5

A manhã começou cinza, mas o clima na Torre Moretti estava ainda mais carregado do que as nuvens no céu. Ao atravessar o hall, percebi que Camila já havia preparado tudo: pastas alinhadas, amostras distribuídas, café fresco. Ela era boa com café.

— Bom dia, Helena — disse ela, com aquele sorriso que era quase cúmplice. — Dante está na sala de reuniões. Ele pediu para começar cedo.

— Obrigada, Camila — respondi, ajustando o blazer. A jovem já estava se tornando minha sombra silenciosa, mas competente.

Entrei na sala e encontrei Dante sozinho, de costas para a janela. Camisa branca, gravata solta, mangas dobradas até o antebraço. Aquela postura tão casual e ao mesmo tempo tão dominante me lembrava que cada detalhe dele tinha efeito calculado.

— Bom dia, Helena — disse, virando-se. O sorriso que lançou era pequeno, mas carregava algo mais: desafio e promessa ao mesmo tempo.

— Bom dia, Dante.

Começamos a revisar os últimos detalhes do projeto, cada linha desenhada, cada textura escolhida. Enquanto apontava ajustes no layout, senti o olhar dele escorregar sobre meu braço, minha mão, meu rosto.

— Sabe, Helena — disse, apoiando-se na mesa, perto de mim —, há algo intrigante em como você encara cada detalhe. Não se esconde, não se intimida.

Engoli em seco, sentindo o calor subir.

— Apenas faço meu trabalho — respondi, mas a voz falhou levemente.

Com uma rápida batida na porta, entrou apressado Ricardo, o consultor sério de finanças, trazendo um relatório.

— Sr. Moretti, encontrei uma discrepância nos custos de materiais importados. Se não ajustarmos, pode haver questionamentos de investidores. Dante assentiu, atento, mas me lançou um olhar rápido, como se dissesse: “Confio em você para resolver”. E naquele instante, percebi que eu não era apenas uma profissional; estava sendo testada.

Camila trouxe mais amostras e documentos. Enquanto ela organizava tudo, percebi um detalhe curioso: uma pasta fora do lugar, com uma marca discreta de café na capa.

— Camila, essa pasta é sua? — perguntei, pegando-a.

— Não… — respondeu ela, franzindo a testa. — Estranho. Não mexi em nada fora do meu setor.

Dante se aproximou, examinando a pasta.

— Alguém tentou interferir no projeto — disse, quase sussurrando. — Mas não se preocupe, Helena. Eu vou descobrir quem.

Durante a tarde, fizemos medições no saguão.

— Venha mais perto — Dante disse, apontando para a área principal. Ele estava próximo o suficiente para sentir meu cheiro, meu calor. Enquanto eu ajustava a posição de um banco em miniatura, ele se inclinou, observando cada movimento.

— Você é detalhista demais — murmurou, com um leve sorriso. — Mas gosto disso.

Um toque acidental de nossos corpos aconteceu. Mais um deles, e eu já estava começando a me sentir irritada com a sensação de antecipação que isso causava. Ambos nos afastamos ligeiramente, conscientes do efeito que causávamos um no outro.

— Devemos focar no projeto — disse eu, tentando soar firme.

— Claro — respondeu ele, mas havia uma provocação clara na voz.

Ao longo do dia, percebi pequenas coisas: Ricardo observando tudo com cuidado, Camila anotando detalhes suspeitos, e Dante atento a cada gesto meu. Era quase um jogo de xadrez: cada movimento tinha consequências, e o inimigo podia estar em qualquer lugar.

Quando o expediente terminou, Dante me acompanhou até o elevador.

— Helena, quero que saiba — disse, baixando a voz —, você me intriga mais do que qualquer relatório ou plano financeiro.

— Então é uma boa ou uma má notícia? — perguntei, mantendo a respiração controlada.

— Depende de quem está perguntando — ele respondeu, com um sorriso que misturava diversão e desejo.

No elevador, ficamos lado a lado, mas não nos tocamos.

— Você confia facilmente, Dante? — perguntei, quebrando a tensão.

— Depende da pessoa — disse ele. — Mas confesso que você me faz considerar confiar antes mesmo de entender totalmente quem é.

O coração acelerou. Aquela proximidade, mesmo em silêncio, era uma batalha silenciosa entre desejo e cautela. Quando saí, o reflexo das luzes da cidade na chuva parecia marcar cada pensamento. Eu estava cada vez mais envolvida. E, mais importante, sabia que o perigo do meu passado ainda pairava sobre nós.

No caminho de volta, uma mensagem inesperada:

“Cuidado com interferências externas. Nem todos que parecem aliados são confiáveis. — D.”

Suspirei. Ele sabia que eu já desconfiava. Mas a frase carregava outro significado. Um aviso. Um desafio. E, acima de tudo, um convite velado para o jogo que ele e eu estávamos prestes a jogar, entre poder, desejo e segredos. Algumas são travadas com olhares, silêncios, proximidade.

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