Capítulo 3 - Naira

Naira

Ele está na minha frente, tento desesperadamente me lembrar dele, de algo sobre ele, mas a dor de cabeça vem com tudo e eu apago. Quando desperto me sinto enjoada, minha nuca está latejando, parece que tenho um coração batendo na parte de trás da minha cabeça. Minha atenção sai do meu desconforto para as vozes à minha volta.

— Senhor Goodman, é essencial que não a pressione a lembrar do passado. Isso pode trazer um dano crítico ao cérebro dela. — A doutora alerta.

— Eu não fiz nada demais, ela me pediu para contar um pouco sobre nós e eu contei sobre um jantar romântico que tivemos na praia. Não sabia que a deixaria desse jeito, se eu soubesse que a levaria ao limite não teria contado. — Brandon funga, parece estar chorando.

— Por favor, tenha cuidado, não sabemos se isso pode piorar a situação dela.

— Não foi culpa dele… eu já despertei com dor de cabeça e ela piorou do nada. Eu deveria ter avisado sobre a dor. — Explico tentando me sentar sozinha, mas a fraqueza me impede e Brandon me ajuda com carinho e zelo.

— Senhora Goodman, sugiro que não se esforce tanto agora. Acabou de despertar e seu cérebro não pode sofrer muita pressão. Descreva sua dor de cabeça, por favor?

— Parece que tem um coração pulsando acelerado na minha nuca! 

— Está sentindo algo mais?

— Meu estômago, está muito enjoado!

— Entendo… vou pedir para alguém trazer um pouco de sopa cremosa para a senhora. Não precisa comer tudo, se comer pelo menos três colheres e tomar dois goles de água será um bom começo.

A doutora saiu e Brandon me olha de longe, parece temer uma aproximação por medo de me fazer mal. A doutora disse que não posso forçar nada, mas é a minha vida, preciso saber quem eu sou. Preciso saber coisas sobre mim, sobre o homem à minha frente, sobre o meu casamento.

— Pode me mostrar em qual orfanato eu fui deixada? — Perguntei, Brandon me olhou preocupado.

— Baby, tenho receio até mesmo de chegar perto de você agora e te causar outro desmaio. Ouviu o que a médica falou, não podemos forçar seu cérebro.

— Senhor Goodman… — de repente essas duas palavras ressoaram no meu cérebro como um eco. Coloquei as mãos na cabeça — Droga… o que é isso?

— Está vendo, amor, por favor, não faça isso com você.

Ele tem razão, ainda não é o momento para isso. Preciso deixar minha mente quieta para depois, se caso eu melhorar, tentar descobrir quem eu sou e o que eu sinto pelo meu marido. Ficamos em silêncio, Brandon continuou longe de mim e ficou me olhando de um jeito amoroso, e isso me deixou tocada.

Poucos minutos depois entrou uma senhora empurrando um carrinho que tinha uvas verdes num pote tampado transparente, uma tigela de sopa verde e uma garrafa de água. Brandon olhou para o carrinho apreensivo, se levantou e foi até a senhora.

— Onde está o suco gelado natural de laranja sem gominhos? Eu avisei que é o suco preferido dela e que era para servir em todas as refeições dela quando despertasse. Poderia buscar, por favor? — A senhora sorriu e saiu. Apesar da firmeza na voz ele foi educado.

— Não precisava, posso ficar só com a água.

— Amor, deixei uma lista do que você gosta de comer, do que você não gosta e do que é alérgica. Essa sopa, por exemplo, tem espinafre, couve flor verde, rúcula e brócolis, você ama esses legumes e hortaliças. As uvas verdes sem caroços são as suas preferidas para uma sobremesa leve.

— Como pode saber tanto sobre mim?

— Primeiro porque eu te amo, segundo porque sou seu marido e terceiro porque somos casados! Você também sabia esses tipos de coisas sobre mim. — Brandon se aproxima a passos lentos enquanto pergunta — Posso te servir essa sopa e te alimentar?

Eu concordei de forma involuntária. Ele foi cuidadoso e cavalheiro, a senhora trouxe o suco para mim, estava gelado, docinho e delicioso. Me trouxe uma sensação de familiaridade estranha e reconfortante. Eu acabei comendo a sopa toda, estava deliciosa e saborosa, também me trouxe familiaridade igual ao suco. As uvas comi algumas, eu estava satisfeita.

Brandon estava pegando um cobertor no armário para mim quando seu celular tocou. Ele olhou para a tela e pela primeira vez o vi franzir a testa. Ele olhou para mim por um breve momento, veio até mim e forrou o cobertor enquanto avisa:

— Preciso atender, é do meu gabinete. Prometo que já volto.

Ele sai apressado. Gabinete? O que ele quis dizer com: gabinete? Me distraio sem saber o que aquilo significa. Instantes depois entra uma enfermeira com uma medicação para aplicar em mim. Fico curiosa e pergunto para ela:

— Sabe me dizer o que significa um gabinete? — Ela sorri gentilmente para mim e responde:

— Depende, senhora Goodman, no caso do seu marido é porque ele é nosso governador. Ele já fez muito pelo nosso Estado.

Governador? Não posso perguntar para ela o que isso significa. Já perguntei uma coisa, não posso perguntar outra. Me sinto uma inútil por não lembrar de nada. A enfermeira parece ter notado a minha confusão mental. Ela vai até um móvel e abre a gaveta.

— Olhe para aquela tela ali no alto. Vou te mostrar algumas coisas.

Ela pega um objeto preto reto e mira na tela enorme que acende diante de mim. Com uma agilidade que despertou meu interesse ela me mostra algumas imagens, vídeos, tudo sobre Brandon e seu trabalho como governador até que a enfermeira diz que sou eu ao lado dele… eu me vejo ao lado de Brandon em uma foto. Eu estou sorrindo.

— O que está acontecendo aqui? — Brandon perguntou curioso.

— Senhor Brandon, estou mostrando o arquivo que o senhor pediu para mostrar para ela quando acordasse. A senhora Goodman parece admirada. — A enfermeira respondeu.

— Eu agradeço a ajuda, mas a doutora pediu para não forçar o cérebro dela no momento. Pode sobrecarregá-la. 

— Eu sinto muito, senhor Goodman, não vai se repetir. — A enfermeira sai.

— Desculpa por isso… como você está? — Brandon perguntou visivelmente preocupado.

— Depois da medicação estou melhor. A enfermeira só quis ser legal comigo.

— É que estou preocupado, não sei como agir, não sei o que fazer.

Ficamos nos olhando, em silêncio, meu coração acelerou.

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