Mundo ficciónIniciar sesiónDia seguinte
"Do outro lado da cidade... NARRADOR Alexandre batia os dedos nervosamente na mesa, a caneta rolando entre eles. A cada batida, um suspiro curto escapava de seus lábios tensos. Ele se levantou, a cadeira raspando no chão, e começou a juntar suas coisas com movimentos bruscos. — Maria, não se preocupe. Chego em breve. — murmurou, o peso da irritação evidente em sua voz. — Karine!! — A secretária surgiu em segundos, como se estivesse esperando por aquele chamado. — Sim, senhor? — perguntou ela, os olhos atentos a qualquer sinal de sua impaciência. — Cancele todas as minhas reuniões e peça ao motorista para me esperar no saguão. Vou para casa. — A secretária saiu, deixando-o sozinho com sua frustração. — Lorena... você não tem jeito. Uma hora depois… Alexandre abriu a porta e seus olhos pousaram na babá de sua filha, um quadro de tinta colorida sobre um vestido branco. Lorena, estava ali perto, com um sorriso travesso nos lábios, observando a cena com uma mistura de malícia e satisfação. — Eu não aguento mais!! — gritou a babá, a voz carregada de exaustão. — Só quero meu pagamento para sumir dessa… praga! — Lorena mostrou a língua para a babá, desafiando. — Vamos até meu escritório. — Alexandre ordenou, a voz firme, mas com um tremor quase imperceptível. — E você, mocinha, pode me esperar em seu quarto. Alexandre entra no escritório, fechando a porta com força. A babá o segue, os olhos cheios de uma mistura de medo e raiva. Lorena, por sua vez, fica parada na porta do seu quarto, observando tudo com curiosidade. — Sente-se. — Alexandre aponta para uma cadeira em frente à sua grande mesa. Ele se senta, a cabeça apoiada nas mãos, o cansaço estampado em seu rosto. A babá hesita por um momento, antes de se sentar. O silêncio que se instala é pesado, interrompido apenas pelo tique-taque do relógio na parede. O ar está carregado de tensão. — Então, conte-me tudo. — Alexandre diz finalmente, sua voz rouca. — O que aconteceu? A babá nervosamente começa a explicar o ocorrido, descrevendo a tarde caótica com Lorena, repleta de travessuras e desobediência. Ela conta como tentou controlar a situação, mas foi em vão. A cada palavra, a raiva de Alexandre parece crescer, misturada com uma profunda exaustão. Ele escuta atentamente, sem interromper, até que a babá termina sua história. Um longo silêncio se segue, quebrado apenas pelo som da respiração ofegante da babá. — Eu entendo, — diz Alexandre, sua voz baixa e calma— Mas não podemos continuar assim. Precisamos encontrar uma solução. Ele pega uma caneta e um bloco, começando a escrever um cheque. Entrega-o à babá, que o pega com mãos trêmulas. — Aqui está seu pagamento, — diz ele, sua voz ainda calma, mas com um tom de decisão final. — Agradeço seu trabalho, mas acho melhor que você procure outro emprego. A babá, surpresa com a rapidez da situação, pega o cheque, sem palavras. Ela se levanta, e sai do escritório, sem olhar para trás. Alexandre fica sozinho, o silêncio do escritório agora é ainda mais pesado, carregado com a sensação de derrota e a iminente necessidade de encontrar uma nova babá para Lorena. Ele olha para a porta do quarto da filha, um suspiro pesado escapando de seus lábios. A batalha ainda não acabou. A porta do quarto de Lorena se abriu e a menina surgiu, os olhos curiosos e inquisitivos. Ela usava um vestido rosa e lindo laço no cabelo. sem entender o que acabara de acontecer entre seu pai e a babá, Lorena se apressa para encontrar o pai. — Papai? — ela perguntou, sua voz suave quebrando o silêncio. Alexandre se virou, forçando um sorriso. Era difícil, mas ele tinha que ser forte por ela. Lorena era o seu mundo, o seu porto seguro em meio à tempestade. — Oi, meu amor. — ele disse, aproximando-se dela. — Tudo bem? Lorena hesitou por um momento, antes de responder. — A babá foi embora. — ela disse, sua voz quase um sussurro. Alexandre se ajoelhou, ficando na altura dela. — Sim, meu amor. Mas não se preocupe, tudo vai ficar bem. Vamos encontrar outra babá, uma que seja perfeita para você. E enquanto isso, eu vou cuidar de você. Ele abraçou Lorena, sentindo seu corpo pequeno e frágil contra o seu. O abraço era um refúgio, um momento de paz em meio ao caos. Ele precisava ser forte, não só por ele, mas principalmente por sua filha. A responsabilidade era imensa, mas ele estava determinado a superá-la. Ele tinha que encontrar uma solução, não apenas para o problema da babá, mas para todos os problemas que pareciam se acumular em sua vida. A jornada seria longa. Alexandre levou Lorena até a brinquedoteca e ficou a observando de longe. — Senhor? — A empregada interrompeu seus devaneios, trazendo-o de volta à realidade. — Está tudo bem? — perguntou, entregando-lhe uma xícara de café. — Depois do acidente de Luana, tudo mudou — ele suspirou, lembrando-se de tudo o que aconteceu. A lembrança do acidente o atingiu como um soco no estômago. A imagem da ambulância, os flashes das câmeras, a angústia nos rostos de sua mãe e irmãos ... tudo voltou com a força de um pesadelo . Lorena brincava distraída. Ele a observava, procurando em seus traços inocentes um pouco de esperança, um sinal de que a vida poderia, de alguma forma, voltar ao normal. Mas o vazio que sentia era imenso. O café esfriou em suas mãos, sem que ele sequer o tocasse. A empregada, discreta, esperava pacientemente por um sinal, uma palavra, qualquer coisa que o tirasse daquele estado de torpor. Ele precisava se recompor, por Lorena, por sua família. Mas como? Onde encontrar a força para reconstruir o que o acidente havia destruído? A resposta, ele sabia, não estava na brinquedoteca, nem no café frio em suas mãos. — Se me permite, eu posso indicar alguém. ela é de confiança...






