"Quando a comunidade se une, nem o Estado nem o crime seguram."
AMANHECER NO MORRO
O céu amanhecia tingido de rosa, mas o morro ainda carregava as sombras da noite anterior. A tentativa de infiltração, o menino com a câmera escondida, as perguntas sem resposta. Mesmo assim, a vida insistia.
A ONG Raízes do Morro abria os portões cedo. Crianças chegavam com mochilas nas costas, mães com o rosto cansado, mas esperançoso. Voluntários já se espalhavam pelos corredores, e o cheiro de café preto misturado com o de tinta e sabão tomava o ar.
Isis estava na laje, encarando a cidade que despertava. Usava moletom escuro, o cabelo trançado recém-feito por Neumitcha, ainda com a linha branca de creme nas laterais. Braços cruzados, o olhar firme.
— Tá tudo indo rápido demais, Neumitcha. — disse, sem tirar os olhos da paisagem.
— Quando a roda gira, meu bem, não tem como segurar. A gente dança conforme o batuque.
— E se o batuque for de tiro?
Neumitcha ajeitou a trança dela com carinho.
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