Mundo ficciónIniciar sesiónGabriela
Conforme os dias iam passando as coisas ficavam pior. Cheguei a pensar que havia algo de muito errado com meu currículo, porque essa seria a única explicação para o meu desemprego.
Liguei para inúmeros números telefônicos, mandei mensagem, pedi indicação, entreguei currículo pessoalmente, e nada. Meu dinheiro estava no fim, e cheguei a cogitar vender o único bem que me restava: a casa.
Foi aí que algo inédito aconteceu, uma ligação estranhamente esperançosa. O gosto de vitória começou a tomar conta da minha boca, pelo menos até eu lembrar que teria que ir até o local em que trabalharia.
Tive que ser honesta com a mulher que me ligou, e expliquei que não tenho condições financeiras de ir a qualquer lugar, já que gastei todo meu dinheiro em entrevistas frustradas. A mulher no telefone, prontamente me pediu o número da minha conta bancária, e fez um depósito generoso para a minha passagem. Confesso que a cidade é bem distante, é uma área mais florestal e acredito que cheia de shifters, mas no momento não posso exigir nada, porque realmente preciso da grana.
No fim das contas me vi com uma mochila nas costas, com duas mudas de roupas, meus documentos e uma pasta com meu currículo, e claro, um lanchinho para a viagem.
O percurso demora em média três horas para ir, e provavelmente para voltar será a mesma coisa ou até mais, dependendo do horário que retornar.
No fim das contas, tive que engolir o medo e erguer a cabeça, por mais difícil que estivesse sendo.
Saquei a grana e entrei no ônibus, sentindo minhas entranhas revirarem dentro de mim. Respirei fundo e fechei meus olhos, e como em um passe de mágica minha mente me teletransportou para aquele fatídico dia. Meu coração começou a disparar enquanto sonhava, e senti que meu corpo inteiro adormeceu com o medo que me tomava cada minuto mais.
Quando abri meus olhos, com um solavanco que o ônibus deu, percebi que me aproximava do meu destino.
Sequei o suor da minha testa e bebi a água que havia na pequena garrafa que eu trouxe.
Assim que pisei fora do ônibus me deparei com uma rodoviária enorme, e de acordo com a moça do telefone, um carro estaria à minha espera.
_ Moça, licença, por acaso sabe me dizer onde fica a área de espera? _ Perguntei para uma atendente.
Sem dizer uma única palavra ela apontou para um local, e como sou educada, agradeci e segui em frente. Sentei em alguns bancos que haviam disponíveis, logo em seguida meu celular vibrou.
“ Seu motorista chegou!”
Olhei para todos os lados, procurando o bendito carro, e depois de alguns minutos completamente perdida, finalmente encontrei o tal carro com a placa.
_ Bom dia, senhorita Gabriela. Meu nome e Cris, e vou acompanhá-la até a mansão Black Wolf.
_ Bom dia Cris. _ Observei o homem muito bem.
Cris é um senhor de idade avançada, e que sinceramente, admira-me que ele ainda dirija.
Assim que entramos no carro e ele deu partida, o senhor me surpreendeu com uma direção atenta e rápida. Porém, comecei a me sentir nervosa, pois cada quilômetro que andávamos mais densa a floresta ficava, e mais a lembrança do passado me assombrava.
Por fim, assim que o carro estacionou em uma mansão enorme, com portões gigantes e o símbolo de um lobo negro entalhado não só no metal, mas como também na porta de entrada, e com direito a um chafariz no meio do pátio de um lobo gigante. Meus pelos ficaram arrepiados, pois na mesma hora associei o lobo negro do meu passado com o lobo do símbolo da família.
_ Droga… _ Murmurei sentindo o suor escorrer nas minhas costas.
_ A senhora está bem? _ Perguntou Cris assim que abriu a porta para que eu descesse.
_ S-Sim, só um pouco nervosa. _ Falei gaguejando.
_ Fique tranquila, senhorita, não há ninguém da família presente, somente a governanta que vai entrevistá-la e o pequeno Vic.
_ Vic? É o garotinho que vou cuidar? _ Perguntei enquanto descia com a minha mochila.
_ Isso mesmo. A senhora está usando algum perfume?
_ Não, nada que contenha cheiros fortes.
Sei que os shifters tem um olfato muito delicado, e que qualquer perfume pode incomodá-los, então se eu quiser esse emprego, preciso garantir começar com o pé direito.
Cris apenas assentiu e pediu que o seguisse.
Subi as escadas da entrada da mansão, e as portas foram abertas para que entrássemos. Segui o velho senhor enquanto observava a decoração chiquérrima, extremamente elegante e cheia de quadros pintados a óleo. Sem contar no carpete. Acho que meus pés nunca pisaram em algo tão caro.
_ É aqui. _ Disse Cris.
Agradeci, e sem pensar muito, para não desistir, empurrei a porta e entrei em uma sala grande, que parecia um escritório.
_ Olá, Gabriela. _ Disse uma mulher com um coque no alto da cabeça, vestindo um uniforme preto. Ela levantou e caminhou até mim.
_ Olá senhora Valéria, é um prazer conhecê-la. _ Dei um aperto de mão, e foi o suficiente para perceber na mesma hora, olhando nos olhos da governanta, que ela não era cem por cento humana.
Seus olhos tem tons castanhos, porém, há também pontos amarelos. Seu rosto transmite um ar selvagem, e mesmo vestida dos pés a cabeça consigo identificar que ela é forte e grande. Diria que dá duas de mim.
_ Fique à vontade, venha. _ Ela me guiou até a cadeira, e mesmo desconfortável sentei.
Agora, seria o momento da entrevista, e honestamente, não sei se vim preparada o suficiente para isso…







