SOFIA
O cheiro de panquecas quentinhas misturado ao som das risadas de Enzo preenchia cada canto da cozinha como se fosse música. A luz da manhã entrava suave pela janela, beijando o chão frio e iluminando nossos rostos com aquele brilho dourado de domingo. Era um dia comum. Poderia ser só mais uma manhã entre tantas. Mas o que meu coração sabia — e ainda escondia — transformava tudo em extraordinário.
Eduardo estava ao meu lado, mexendo a massa com uma concentração quase teatral, só pra distrair o pequeno que tentava descobrir “o mistério do dia”. A cumplicidade entre nós dois já não cabia nos olhares. A cada toque leve, a cada sorriso de canto de boca, a gente quase entregava o segredo. Era impossível não sorrir. A verdade vibrava dentro de mim, pulsando como uma segunda alma, ou melhor, uma terceira.
— Vocês tão esquisitos hoje — Enzo disparou, do alto da sua sabedoria de criança, com a boca cheia de banana e panqueca.
Quase engasguei de tanto rir. Eduardo fingiu um choque ofendido