A BABÁ E O MAGNATA TRAÍDO
A BABÁ E O MAGNATA TRAÍDO
Por: Tônia Fernandes
PRÓLOGO — O ACIDENTE

Edmund

A estrada se estendia diante de mim como uma fita escura, cortada apenas pela claridade amarelada dos faróis que iluminavam alguns metros à frente. A chuva fina caía sem cessar, espalhando pequenos brilhos no vidro do para-brisa. O som ritmado das palhetas tentando varrer as gotas me deixava quase hipnotizado.

Eu sabia que estava cansado. Sabia que deveria ter aceitado o conselho de Margaret para ficarmos mais uma noite no hotel da cidade vizinha, mas não conseguia. A lembrança das meninas me puxava para casa com uma força que nenhum sono poderia deter.

Prometi. Eu prometi a Charlotte que chegaria ainda hoje, que leria com ela aquela história que começamos antes de viajar. Lembrei do jeitinho dela, apoiando o queixo nas mãos, tentando parecer adulta demais, escondendo a ansiedade em cada piscada rápida.

E Emily… minha pequena Emily. Dois anos apenas, mas já sabia transformar o meu coração em cera com um simples sorriso. Quando segurei sua mão antes de sair, ela fechou os dedos minúsculos ao redor dos meus e choramingou. Como se pudesse pressentir que eu não deveria ir.

Essas imagens se misturavam com o barulho da estrada molhada. O peso das pálpebras tentava me vencer, mas eu me endireitei no banco, respirei fundo e apertei o volante com mais força.

Margaret me observava em silêncio, e eu sentia os olhos dela queimando ao lado do meu rosto. Finalmente, ouvi sua voz.

— Amor, vamos parar um pouco. Você está cansado.

Aquela preocupação dela sempre me emocionava. Sempre tão atenta, tão cuidadosa, como se tivesse nascido para manter todos nós de pé. Virei rapidamente o rosto e vi seus olhos cheios de ternura, mas também de medo.

— Falta pouco, Maggie. — tentei sorrir. — As meninas… eu prometi a elas que voltaria hoje. Não quero que durmam outra noite sem nós.

Ela suspirou, como se já esperasse essa resposta.

A estrada parecia me engolir. As árvores nas margens formavam sombras alongadas, e de vez em quando algum brilho de farol distante surgia e desaparecia. Minha mente oscilava entre o presente e lembranças.

Pensei no dia do nascimento da Charlotte. Lembrei-me do medo que senti ao pegá-la no colo pela primeira vez, com aqueles olhos curiosos que pareciam examinar meu rosto como se já soubesse quem eu era. Naquele instante, compreendi o verdadeiro significado de ser pai.

E então veio Emily, tão frágil, tão delicada. Lembro da sensação de segurá-la contra o peito e jurar que nada jamais a machucaria. Como eu poderia descansar agora, longe delas?

O sono insistia, mas a imagem das duas bastava para me manter desperto. Eu não podia falhar. Eu não podia quebrar a promessa.

---

Margaret

Olhei para Edmund e vi o esforço que ele fazia para lutar contra o próprio corpo. As mãos firmes no volante, mas os olhos cada vez mais pesados. Conhecia cada linha do rosto dele, cada marca deixada pelo tempo e pela responsabilidade.

Ele não admitiria parar. Não enquanto as meninas estivessem esperando.

— Elas sentem tanto a nossa falta… — murmurei, baixinho, mais para mim do que para ele.

Edmund sorriu de lado, um sorriso cansado, mas cheio de convicção.

— Elas são a nossa vida, Maggie. Nossa herança.

Meu coração apertou. Olhei pela janela e imaginei as meninas dormindo em casa. Charlotte provavelmente ainda acordada, fingindo que lia um livro, mas só esperando por nós. Emily talvez tivesse chorado até adormecer, agarrada à boneca que nunca largava.

Um silêncio pesado encheu o carro, quebrado apenas pelo barulho dos pneus contra o asfalto molhado. Apoiei a cabeça no encosto e deixei que as lembranças me invadissem.

Recordei-me do primeiro aniversário de Charlotte, da bagunça que fizemos na cozinha tentando assar um bolo, do sorriso largo de Edmund quando ela colocou a cobertura no nariz dele. Recordei também de Emily dando seus primeiros passos, correndo cambaleante para os braços do pai.

A vida era dura, cheia de compromissos, mas sempre valia a pena quando chegávamos em casa e víamos aquelas duas correndo para nos abraçar.

Foi então que aconteceu.

Um movimento rápido, um vulto atravessando a estrada. Um cervo, assustado pela claridade dos faróis.

— Edmund! — gritei.

Ele virou o volante com força. O carro derrapou sobre o asfalto encharcado. O som dos pneus ecoou como um lamento metálico.

Tudo pareceu em câmera lenta. O carro deslizando, a grade de proteção se aproximando, os olhos arregalados de Edmund.

Senti o impacto quando atravessamos a barreira, e o mundo girou. O desfiladeiro nos engoliu em silêncio.

O coração disparou, e a única coisa que veio à minha mente foram as meninas.

“Nossas filhas…”

O estrondo, a explosão, o fogo. A dor foi substituída por uma única certeza: o amor que deixávamos para trás.

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