POV Isadora Ferraz
Tranquei a porta. Encostei na madeira. Respirei como quem tenta lembrar que ainda tem pulmões.
A briga ainda latejava no corpo. O braço doía. Mas não tanto quanto a alma.
Me despi ali mesmo, jogando o casaco no chão como se fosse armadura vencida. Vesti uma blusa larga, sentei no canto do quarto e peguei o notebook de dentro da mochila escondida no fundo do armário.
Nem acendi a luz.
A tela brilhou azul. O documento abriu.
O cursor piscava como um alerta cardíaco.
Como se perguntasse: “Tá viva aí dentro?”
Meus dedos começaram a digitar antes que a mente organizasse os pensamentos.
“O monstro mora no andar de baixo.
Ele sorri em jantares e segura taças de vinho com a mesma mão que marca braços.
Ele diz que é amor, mas é domínio.
Que é cuidado, mas é coleira.”
Escrevi.
Sem parar.
Sem pensar.
“Na casa dos Montenegro, o silêncio tem preço. E o preço é a própria sanidade.
Eles te dão um quarto. Um contrato. Um vestido.
Mas tiram sua história. Apagam sua voz.”
As lágri