POV Isadora Ferraz
Acordei com o despertador berrando como se anunciasse um apocalipse. Segunda-feira. O dia mais comum do mundo pra quem finge ter uma vida normal. Tomei banho rápido. A água batendo no meu corpo parecia um castigo, mas também um batismo. Vesti uma calça de alfaiataria preta, camisa branca, blazer escuro. O uniforme da guerra silenciosa.
Desci pra cozinha. Célia tomava café como se fosse água benta. Heitor lia o jornal, mas os olhos vazavam raiva. Elena não apareceu. Rafael? Sumido. Talvez ainda sonhando com suas taras doentias.
— Vai trabalhar hoje? — Célia perguntou, mexendo a xícara com um tilintar irritante.
— Sim. — Respondi seca.
— Excelente. — Ela sorriu. Mas era um sorriso de tubarão. — Não esqueça que você tem uma imagem a manter.
— Eu nunca esqueço. — Enfiei uma fatia de pão na boca, só pra não xingar.
Heitor largou o jornal.
— E volta direto. Nada de sumir de novo.
Levantei, ajeitei o blazer.
— Não sou obrigada a te dar satisfação. Cuida da tua amante.
Ele