POV Isadora Ferraz
A manhã de domingo chegou com gosto amargo. A mansão fervia num silêncio falso, como se cada parede segurasse a respiração. Todos se arrumavam para a missa. O teatro dominical. O ritual de fingir pureza pra uma plateia de desconhecidos.
Desci as escadas, lenta, segurando a xícara de chá como se fosse um escudo.
Célia estava no hall, ajeitando o chapéu exagerado na cabeça. Heitor vestindo terno azul-marinho, ajeitando a gravata no espelho. Elena, inchada, enfiando o vestido branco colado demais. Rafael… me olhando. Como sempre. Como um predador com fome de medo.
— Vai se arrumar — disse Célia, olhando pra mim como quem observa um cachorro sujo na sala de estar.
— Não vou hoje — respondi, encostando na parede. — Estou indisposta.
Célia girou o corpo, irritada.
— Indisposta?
— Gripe. Enjoo. Falta de paciência. Pode escolher.
Heitor me fuzilou com os olhos. Mas não insistiu. Rafael abriu um sorriso torto. Elena revirou os olhos.
— Não faça drama — disse Célia, suspirand