LorenaNão tinha sido ruim. Só não tinha sido bom.Essa era a mentira que eu repetia para mim mesma enquanto a água quente caía sobre o meu corpo.Quando puxei Danilo para me beijar, imaginei que as coisas seriam diferentes. Achei que, depois, a gente tomaria banho juntos, riria, ficaria deitado conversando até dormir.Mas o que eu realmente queria — e só ali percebi — era repetir a cena da minha primeira vez com Felipe.E isso não era justo com Danilo.Ainda assim, o fato de ele ter ido embora logo depois me deixou magoada, envergonhada.Tinha sido tão ruim assim?Fechei o chuveiro, vesti o pijama e me deitei.O quarto estava silencioso, e eu me sentia estranhamente vazia.Não era como imaginei. Não havia aquela sensação de leveza, de carinho… só um incômodo que eu não sabia explicar.Na manhã seguinte, terminei um trabalho com Laila e fui direto para a escola.Passei em frente à sala de música, mas Danilo não estava lá.Fui então para minha sala, comecei o alongamento, coloquei uma

Felipe Três anos.Três anos vivendo na Espanha.Três anos fugindo de um sentimento que, por mais que eu tentasse, sempre me encontrava.Um ano atrás, numa segunda-feira qualquer, recebi uma mensagem de Lorena. Curta, confusa. Soava como algo escrito tarde da noite, talvez depois de alguma bebedeira. Eu li e reli aquela mensagem dezenas de vezes, tentando entender por que ela ainda mexia tanto comigo.Na verdade, não fazia sentido nenhum.Nem ela me mandar mensagem, nem eu continuar refém de algo que deveria ter ficado no passado.A vida na Espanha era boa, a empresa cresceu, os projetos iam bem, eu tinha amigos, rotina, estabilidade. Mas, mesmo assim, algo em mim sabia que estava na hora de voltar.Pelo que eu havia ouvido de conhecidos, Lorena não tocava mais — o que tornava mínima a chance de um reencontro. E talvez fosse melhor assim.Minha irmã, Luciana, e o marido também tinham decidido deixar o Canadá, então, pela primeira vez em anos, a família estaria reunida de novo. E eu… e

FelipeEu não estava preparado para aquilo. As imagens no telão me rasgaram o peito — ela, machucada, irreconhecível. Num segundo, minha mente puxou de volta todo o tempo: três anos antes, a pequena reclamação dela sobre dor; eu, perguntando se estava tudo bem; ela dizendo que tinha caído no banheiro. Mentira. Ela havia apanhado do pai.Quando ela falou que achava que estava namorando alguém que sumiu do país — e que, por causa disso, o pai perdera um contrato e a agredira — meu mundo desabou. Eu senti um vazio tão grande que precisei me segurar na cadeira. Aquela era a história que eu temia ouvir, e ao mesmo tempo precisava ouvir: as fotos do hospital, o rosto inchado, as marcas… era ela. E — por um segundo que parecia uma eternidade — eu me vi como

FelipeLorena simplesmente sumiu.Não apareceu no restaurante, não respondeu às mensagens, não atendeu às minhas ligações. Um vazio estranho foi se abrindo a cada toque sem resposta — e, com ele, a angústia.Fui até a escola e esperei na recepção, na esperança de cruzar com ela nos corredores. A recepcionista, educada, disse que ela não havia ido trabalhar — que estava “doente”. Aquilo não fazia sentido. Ela havia aceitado me ver; marcara o encontro; e, de repente, evaporara. Será que o medo que eu vi em seus olhos a deixou assim? Será que ela realmente acreditou que eu poderia fazer mal a ela? A ideia me perfurou por dentro.Sem respostas e sem saber onde encontrá-la, fui atrás de Laila. Marquei com ela e, na quarta-feira, sentei-me diante dela com o rosto pesado.— Felipe? A que devo a visita? — perguntou, com aquele tom direto que eu já conhecia.— Laila, a Lorena sumiu. Ela não apareceu ao encontro que marcamos e não respondeu às minhas mensagens e ligações.— Sumiu? Mas falei com

FelipeVer Lorena daquele jeito me partia. Havia algo de devastador em vê-la tão abatida, frágil, sem o brilho que costumava ter nos olhos. A vontade que eu tinha era de pegá-la nos braços, prometer que tudo ficaria bem e não soltá-la mais. Mas eu sabia que precisava manter uma certa distância — por ela, e por mim.Ainda havia dúvidas. Ainda havia o peso do que aconteceu entre nós da última vez que ela esteve na minha casa. Ela tinha saído com medo, e isso me atormentava. Eu nunca quis ser alguém que ela temesse. Eu queria que ela confiasse em mim. E, no fundo, eu também queria poder confiar nela de novo.Ver que ela aceitou ficar no meu apartamento já era um avanço. Quando ela pediu ajuda para arrumar o cabelo, foi um gesto simples, mas significativo. Fiquei feliz em poder cuidar, ainda que de um jeito contido, silencioso.Antes de sair para o trabalho naquela manhã, preparei algo para ela comer e deixei um bilhete sobre a bancada, dizendo que voltaria o quanto antes. Eu me peguei re