LorenaQuando acordei e vi Felipe ao meu lado, por um momento achei que ainda estava sonhando. Levei alguns segundos para entender onde estava e por que ele estava ali, deitado ao meu lado, com o rosto sereno, o peito subindo e descendo num ritmo calmo. Eu não lembrava de ter ido para o quarto, mas estava vestida, coberta, e tudo parecia perfeitamente normal.Fiquei observando-o por um tempo, em silêncio. Ele dormia de lado, o cabelo um pouco bagunçado, a barba por fazer… e era lindo. Mas o que realmente me desarmava era a sensação de segurança que eu sentia ali, ao lado dele. Fazia tanto tempo que eu não me sentia assim.Quando ele acordou, nossos olhares se encontraram. Ficamos apenas nos olhando por alguns instantes — sem pressa, sem palavras. Então ele se desculpou por ter dormido ali e disse que queria tentar outra vez.Fiquei confusa. Parte de mim queria acreditar, a outra ainda lembrava de tudo o que tínhamos vivido — das mágoas, da desconfiança. Mas quando ele disse que queria

LorenaQuando os lábios dele tocaram os meus novamente, senti como se algo dentro de mim finalmente encontrasse um lugar de descanso. Não era só o beijo — era o que vinha junto com ele. Era o alívio, a entrega, a vontade de acreditar de novo.Por tanto tempo eu me acostumei a esperar que as coisas desandassem. Que o carinho fosse temporário, que a presença virasse ausência de um dia para o outro. E, de repente, ali estava ele — paciente, carinhoso …Quando o beijo terminou, fiquei alguns segundos com os olhos fechados, tentando gravar cada detalhe: o toque quente das mãos dele, o som da respiração entrecortada.Era estranho como tudo com o Felipe acontecia com calma, mas me desarmava como se fosse uma tempestade.Eu o vi me olhando, e por um instante tive de ter dito demais. Mas era tarde — as palavras já tinham escapado, e eram verdadeiras. Eu queria que ele dormisse comigo todos os dias. Não só por desejo, mas porque ele me fazia sentir que o mundo podia ser leve.— Tem certeza? — e

FelipeEu gostava da Lorena. Gostava de um jeito que eu ainda estava tentando entender. A noite que passamos juntos só confirmou o que eu vinha tentando evitar: aquele sentimento estava crescendo, ocupando espaço, tomando conta de mim. Ela mexia comigo. Me fazia bem. Me fazia querer coisas que eu não esperava querer tão cedo.Mas, ao mesmo tempo, dentro de mim ainda existia uma bagunça que eu não conseguia ignorar. Havia uma parte de mim que queria me entregar àquilo e simplesmente confiar… e outra que me puxava para trás, lembrando do passado, das decepções, das palavras do pai dela ecoando na minha cabeça.O suposto acordo entre eles. O interesse. A manipulação.O pai dela não era confiável — eu sabia disso.Mas tudo tinha se encaixado tão perfeitamente na época que era difícil não duvidar de tudo. Difícil ignorar a possibilidade de eu ter sido usado, enganado.Eu precisava esquecer aquilo. Precisava me esforçar. Se eu realmente quisesse construir algo com ela, eu teria que confiar.

FelipeCheguei na empresa cedo, mais cedo do que o habitual. Talvez porque eu não tivesse dormido direito, talvez porque minha cabeça estivesse um caos, talvez porque eu precisasse de alguma coisa que me distraísse. E, como sempre, Pedro apareceu assim que cruzei a porta.— Achei que estava namorando a pianista — disse ele com aquele sorriso irritante de quem gosta mais da fofoca do que da verdade.— E estou — admiti sem rodeios.— Não é o que falam — ele ergueu o celular na minha direção, com a tela já aberta na maldita foto que alguém tinha tirado no restaurante.Droga. A foto com Marina. Um ângulo ruim, uma iluminação pior, mas o suficiente para parecer “clima de romance”.— Quem fez isso? — perguntei, mais irritado do que deveria.— Não sei. Mas sendo Marina ou a pianista, eu apoio — respondeu rindo.— Não seja idiota — cortei, passando por ele.Enquanto caminhava para minha sala, senti o celular vibrar. Marina.“Viu que estamos em clima de romance?”Li a mensagem e pude ouvir a v

Lorena Eu estava triste, magoada, brava... Uma raiva silenciosa, daquelas que queimam devagar, escondida atrás de uma sombra de vergonha. Eu queria brigar com ele, queria gritar, queria perguntar por que ele me pediu para tentar se nem ao menos confiava em mim. Queria dizer o quanto eu me sentia decepcionada. Queria ter coragem para dizer que o amava — porque eu o amava. E admitir isso doía ainda mais.Quando estávamos bem, eram os poucos momentos em que eu realmente me sentia feliz. Completamente feliz, como se a vida parasse de pesar um pouco, como se eu tivesse, finalmente, encontrado um lugar onde eu cabia. Mas, diante dele, tudo o que consegui fazer foi dizer que estava tudo bem. E sorrir, aquele sorriso ridículo, gentil, automático, como se eu estivesse pedindo desculpas por existir.Como eu pude me enganar tanto?Felipe jamais se interessaria por mim de verdade. Ele era rodeado de mulheres bonitas, independentes, seguras e interessantes. Mulheres que sabiam conversar, que tinh