O dia seguinte amanheceu silencioso.O sol atravessava as frestas da cortina, desenhando traços de luz e sombra no chão — um quadro quase sereno, se não fosse o peso invisível que pairava no ar.Helena despertou antes do despertador, como de costume. Por alguns instantes, ficou apenas observando o teto, deixando que a lembrança da noite anterior se infiltrasse lentamente, como tinta dissolvendo-se na água.Virou o rosto. Cássio dormia ao seu lado.Ela o observou por um tempo, em silêncio, como quem contempla um quadro antigo — belo, mas já sem a mesma cor.Os cabelos, um pouco desalinhados, caíam sobre a testa; o queixo, firme sob a luz tênue da manhã, era delineado pela sombra suave da barba, traçando uma linha que antes a convidava ao toque.Por anos, aquele rosto fora seu abrigo, o lar onde repousavam suas certezas.Agora, parecia o retrato de um estranho.Talvez ainda houvesse amor — ou o eco distante de algo que já foi.Ou, quem sabe, o que ela amara de verdade tivesse sido apena
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