O som ecoava dentro da cabeça de Helena como uma sirene distante. O golpe ainda ardia — não apenas na pele, mas na alma. Tocou o local ferido, e quando seus dedos voltaram cobertos de sangue, a intensidade do vermelho pareceu lhe gritar tudo o que ela precisava ouvir: aquilo era o fim.
Se antes tudo que ela queria era justiça, agora ela não teria piedade.
O sangue escorrendo por entre seus dedos era o retrato cru de tudo o que ela havia ignorado por amor.
Cada gota parecia uma lembrança — das promessas de Cássio, dos sorrisos cúmplices, dos sonhos que ela mesma pintou para os dois.
Ergueu-se devagar, a respiração entrecortada. As pernas tremiam, mas ela segurava firme a pasta contra o peito — como se aquele monte de papéis fosse o último fio de dignidade que lhe restava. Passou por entre os corredores da empresa, enquanto olhares chocados e cochichos se erguiam ao redor. Alguns funcionários baixavam os olhos, constrangidos; outros a olhavam com pena.
Mas Helena não olhou para ninguém.