(Eduardo)Eu sempre achei que nada poderia ser pior do que perder Beatriz e a filha que nunca nasceu. Sempre acreditei que o destino já havia me punido o suficiente, me condenando a esta cadeira de rodas, preso a um corpo que não respondia mais como antes. Mas, em Boston, dentro da clínica de reabilitação mais conceituada do mundo, percebi que havia dores mais sutis, mas igualmente devastadoras: as que vinham de dentro, do confronto com as minhas próprias limitações.O doutor Owens tinha sido claro desde a primeira consulta: a cirurgia era apenas o começo. Antes de pensar em abrir meu corpo, seria necessário começar um tratamento intenso de fisioterapia. O verdadeiro desafio, ele dizia, não estava no bisturi, mas no que viria antes e depois dele — nos exercícios repetitivos, dolorosos, cansativos e, ainda assim, incertos. Nada garantia que eu voltaria a andar.Na teoria, eu já sabia de tudo isso. Na prática, meu primeiro dia de fisioterapia foi um soco no estômago.Deitado na maca, se
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