(Lua)Paris.A cidade que eu só conhecia por meio de revistas de moda, filmes românticos e novelas agora estava diante dos meus olhos. Assim que descemos do avião, o ar frio de novembro me envolveu como um abraço gelado, roubando quase todo o ar dos meus pulmões. O céu estava cinzento, pesado, mas ainda assim havia algo em Paris que parecia brilhar — como se a cidade tivesse sua própria luz.Sol apertava forte a minha mãozinha, os olhos verdes arregalados e cheios de encanto.— Mamãe, olha! É tudo grande!Sorri, mesmo com o corpo pedindo cama depois das longas horas de voo.— É sim, meu Sol. É Paris.As babás que Eduardo havia contratado já se aproximavam. Clara, a brasileira mais simpática, ajeitava o carrinho de Sol enquanto tentava distraí-la com um livro cheio de figuras coloridas. Juliette, a francesa de sotaque carregado, cuidava das malas com uma eficiência quase militar.Eduardo vinha logo à frente, firme na cadeira de rodas motorizada, impecável em seu terno escuro. Parecia q

(Lua)Paris tinha um brilho diferente, como se cada rua, cada monumento respirasse romance. O ar parecia mais leve, ainda que carregado de histórias. As pessoas passavam apressadas, algumas com baguetes debaixo do braço, outras com câmeras penduradas no pescoço. O idioma soava como música em meus ouvidos, mesmo quando eu não entendia nada.Eu ainda não conseguia acreditar que estava ali. Nunca imaginei que um dia pisaria na Cidade Luz — e menos ainda ao lado de Eduardo, de Sol e de toda a equipe que cuidava da minha filha. Era surreal.Nosso primeiro dia foi planejado para ser leve. Caminhamos pelos jardins próximos ao hotel, onde flores coloridas resistiam ao frio do início da primavera. Depois seguimos em direção à Champs-Élysées, a avenida mais famosa de Paris, com suas lojas luxuosas e vitrines que pareciam brilhar como joias.Sol estava radiante. Seus olhinhos vibravam diante das cores, dos reflexos, do movimento. Ela apontava para tudo, querendo absorver cada detalhe.— Mamãe, q

(Lua)Paris parecia ainda mais bonita no último dia da viagem, talvez porque eu soubesse que estava me despedindo dela. As ruas cheias de cafés, os músicos tocando nos cantos, as vitrines de flores que pareciam ter saído de um quadro impressionista. O vento leve de outono trazia o cheiro de pão recém-assado e café fresco. Eu deveria estar feliz, grata por essa experiência. Mas dentro de mim, tudo era confusão.Eu olhava para Eduardo e não sabia mais quem ele era. O homem frio que me machucava com palavras duras? Ou aquele que, com um simples olhar, conseguia despedaçar minhas defesas e me fazer acreditar em algo que eu jurava não querer sentir?Sol corria de um lado para o outro no jardim do hotel, encantada com um pequeno cachorro de uma turista. Sua risada era cristalina, um som que fazia meu coração relaxar por alguns segundos. Eduardo observava a cena com um sorriso discreto, quase imperceptível, mas que eu já sabia reconhecer. Ele se desmontava diante dela. Sempre.E era justamen

(Lua)Depois daquela noite na praia, deitada na areia com Eduardo sob o manto das estrelas, algo dentro de mim mudou. Não foi apenas um beijo roubado ou um momento de fraqueza; foi como se uma parte adormecida da minha alma tivesse despertado. Uma chama acesa que agora queimava sem descanso dentro de mim.Passei o dia seguinte perdida em pensamentos. Cada vez que olhava para ele, lembrava do calor dos seus lábios, da força com que me segurava, da vulnerabilidade escondida por trás daquele homem que passava tanto tempo se escondendo atrás de uma máscara de frieza.Eu deveria estar satisfeita por ter atravessado as muralhas de Eduardo. Afinal, desde o início, tudo que ele oferecia eram paredes, controle e distância. Mas, em vez disso, eu estava confusa. Meu coração acelerava cada vez que ele se aproximava, e meu corpo reagia a ele de uma forma que eu não conseguia controlar. Era como se cada gesto, cada olhar, cada palavra dele fosse capaz de me desestabilizar.A tensão crescia a cada d

(Lua)Assim que vi Thiago sair do escritório de Eduardo, com aquele sorriso cínico colado ao rosto, senti um arrepio percorrer minha espinha. Aquele homem tinha o dom de envenenar tudo o que tocava. Sua presença era como um veneno espalhado no ar, sufocante, corrosivo. Ele passou por mim no corredor sem sequer olhar para trás, como se tivesse acabado de cometer um crime perfeito, como se cada passo fosse o triunfo de alguém que sabia exatamente onde havia atingido.Meu coração disparou, latejando dentro do peito como se quisesse me alertar de que algo terrível havia acontecido ali dentro. Respirei fundo, tentando reunir forças, mas meus dedos tremiam quando alcancei a maçaneta. Empurrei a porta devagar, com medo do que encontraria.E então vi.A cena me destruiu.Eduardo estava sozinho, sentado em sua cadeira imponente — que, naquele instante, parecia maior do que ele. O rosto estava enterrado entre as mãos, os ombros largos curvados, o corpo inteiro tremendo. Não era apenas um choro