A batida começou como começam os temporais: pelo cheiro. Um vento frio atravessou o corredor do clube um pouco antes da meia-noite, e Gaia, que não acredita em presságios, sentiu mesmo assim a pele se eriçar. Havia passos que não pertenciam à música, vozes que não pertenciam ao riso. Quando a porta dos fundos abriu sem cortesia e três sombras entraram dizendo “polícia, todos parados”, o salão ainda sorriu por reflexo — o sorriso que as cidades usam antes de entender o que vai cair.— Rotas — disse Gaia, seco, ao ouvido de Aurora. — Plano de chuva. Agora.As instruções, treinadas à exaustão, dispararam. Luzes baixaram um tom, portas laterais se fecharam, corredores foram esvaziados com naturalidade ensaiada. Mas nada segura uma água que vem de todos os lados. Botas ecoaram nos degraus, rádios sussurraram códigos, e o gerente — de “licença médica” — apareceu de repente, pálido, fingindo surpresa com a autoridade que ele mesmo convidara. Dois oficiais passaram por ele sem olhar; sabiam r
Leer más