O telefone tocou no meio da tarde. Era meu pai. A voz dele, grave e controlada, me chamou para jantar. Não pude evitar um arrepio — havia anos que os jantares com Bezerra deixavam um gosto metálico na boca. — Tudo bem, pai. Estarei aí. — Respondi, tentando manter a voz neutra. Ao chegar, fui recebido com aquele sorriso de sempre, cheio de cordialidade estudada. A casa impecável, o cheiro de comida caseira e um terno caro que parecia pesar mais do que o normal. Ele me abraçou, e por um instante quase deixei passar. Mas conhecia bem os sorrisos falsos do meu pai. Sentamo-nos à mesa. Bezerra serviu vinho, riu de algumas observações triviais, mas eu percebia cada detalhe, cada gesto calculado. Era o jogo dele, e eu sabia disso. — Filho, preciso que você volte para a empresa. — Ele começou, a voz macia, quase paternal. — O grupo precisa de você. — Pai... — tentei não demonstrar nada. — Não sei se… — Antônio, me diga uma coisa, como está Aurora? — Ele inclinou-se levemente, curioso,
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