Capítulo 2 Fênix Souza Depois de derrotar os dois intrusos que ousaram invadir meu templo sagrado, amarrei os dois com cipós resistentes e assobiei alto, convocando meus lobos. Eles não demoraram. Poucos segundos depois, Toby e Mimi surgiram das sombras da floresta, uivando com força e rosnando logo em seguida. Os dois homens, antes tão atrevidos e audaciosos, agora estavam pálidos como fantasmas. Suavam frio e se tremiam como folhas ao vento. — Muito bem… vamos começar com as perguntas — disse, com o olhar firme, sem me preocupar em parecer gentil. Apontei o cabo de vassoura, ainda com a ponta lascada, diretamente para eles. — Quem são vocês? O que querem no meu templo? Quem os mandou aqui? — Por favor, moça! Nos deixa ir embora! Ninguém nos mandou, nós juramos! — disse um deles, quase implorando. — Estão mentindo — afirmei com a voz fria. — Querem ser devorados pelos meus lobos? Os lobos avançaram um passo, rosnando de forma ameaçadora. Os homens quase se urinaram de medo. —

Capítulo 4 Fênix Souza O dia havia transcorrido de forma tranquila, quase serena, desde que os intrusos foram embora. Aproveitei a calmaria para ir até a horta com meus lobos, Toby e Mimi. A terra ainda estava macia por causa da chuva da noite anterior, o que facilitou meu trabalho de plantar mais alguns pés de tomate e pimentão. Já conhecia bem o ciclo de cultivo, cada intervalo de rega, cada cuidado necessário, então não precisei me demorar muito. Ainda assim, aquela rotina simples me trazia uma paz que poucas coisas no mundo eram capazes de proporcionar. Quando terminei, o céu já se pintava com tons de laranja e púrpura, anunciando o entardecer. O canto distante de um sabiá ecoava entre as árvores, enquanto o ar começava a ganhar o frescor característico da noite. Decidi que era hora de tomar um banho e trocar de roupa. A água quente escorria sobre minha pele, relaxando meus músculos e lavando o suor e o pó da horta. Fechei os olhos, inspirando o aroma suave do sabonete de e

Capítulo 6Fênix SouzaJá escureceu e eu nem percebi. O tempo pareceu escapar pelos meus dedos como areia fina. Levanto-me devagar, sentindo o bumbum dolorido de tantas horas sentada, com a vista cansada de tanto forçar os olhos sobre páginas antigas e amareladas. Eu me debrucei sobre cada linha dos livros sagrados, pergaminhos e registros que herdei do templo, mas... nada. Nenhuma pista sobre a maldição hereditária. Nenhum indício de como quebrar o ciclo que assombra gerações inteiras.Com um suspiro pesado, fecho o último tomo e passo a mão pela lombada gasta. Meu corpo reclama. Vou até a lareira e empilho algumas lenhas, sentindo a aspereza da madeira nas mãos. Um estalar seco antecede o estalo do fogo quando concentro meu poder, e logo as chamas ganham vida. O crepitar preenche o silêncio da casa, quase como uma melodia. O calor vai se espalhando pelo ambiente, e por um instante sinto-me acolhida.Mas não é o suficiente. Meu corpo precisa de descanso, de alívio. Preciso de um banh

Capítulo 8 Akira Muniz Aquela mulher é incrível. Poderosa. Mandou seus lobos de estimação me atacar com tudo, mesmo quando eu estava escondido atrás da árvore. Não baixou a guarda por um segundo, mas também foi cruel. Se eu não tivesse saído logo, os lobos teriam me rasgado todinho — disso eu não tenho dúvida. Confesso que fiquei desapontado ao saber que a tal planta da lua não quebra maldições hereditárias. Era minha última esperança... ou, pelo menos, eu achava que era. — Muito bem, Toby, Mimi — disse ela com naturalidade. — Façam companhia ao senhor Akira. Vou até a cozinha preparar um chá pra gente. Nozes, você também. Ela falava com os lobos e com um porquinho-da-índia que parecia entender tudo perfeitamente. O pequeno roedor subiu na mesa de estudos com agilidade, enquanto os lobos se acomodaram ao redor, como guardiões silenciosos. O templo era simples, mas carregado de energia. Não havia luz elétrica — apenas velas e cristais que emitiam um brilho suave. O lugar

Capítulo 10 Fênix Souza O senhor Klaus foi embora, e os lenhadores ficaram para me ajudar na busca da planta da lua e de outras plantas medicinais para remédios e elixires. Os dois parecem ter medo de mim depois da lição que dei neles. No momento, estão varrendo os arredores do templo, enquanto eu fui para a cozinha preparar o café, assar alguns pães, colocar o feijão para cozinhar e fazer o arroz e o macarrão. Estou tão ansiosa... Faz vinte anos que não como esse manjar dos deuses. Agora me deu uma saudade imensa dos meus pais. Eles sempre traziam de fora da floresta. Nunca me disseram como conseguiam. Enquanto o cheiro do café se espalhava pela cozinha, senti uma pontada no peito. Era saudade. Saudade dos risos dos meus pais, da voz da minha mãe dizendo que o pão estava quente e do meu pai reclamando que o feijão estava sem sal, mesmo quando estava perfeito. Meus olhos se encheram, mas segurei. Não era hora de fraquejar. Os lenhadores ainda varriam em silêncio, e eu sabia que e