Capítulo 2
Fênix Souza Depois de derrotar os dois intrusos que ousaram invadir meu templo sagrado, amarrei os dois com cipós resistentes e assobiei alto, convocando meus lobos. Eles não demoraram. Poucos segundos depois, Toby e Mimi surgiram das sombras da floresta, uivando com força e rosnando logo em seguida. Os dois homens, antes tão atrevidos e audaciosos, agora estavam pálidos como fantasmas. Suavam frio e se tremiam como folhas ao vento. — Muito bem… vamos começar com as perguntas — disse, com o olhar firme, sem me preocupar em parecer gentil. Apontei o cabo de vassoura, ainda com a ponta lascada, diretamente para eles. — Quem são vocês? O que querem no meu templo? Quem os mandou aqui? — Por favor, moça! Nos deixa ir embora! Ninguém nos mandou, nós juramos! — disse um deles, quase implorando. — Estão mentindo — afirmei com a voz fria. — Querem ser devorados pelos meus lobos? Os lobos avançaram um passo, rosnando de forma ameaçadora. Os homens quase se urinaram de medo. — N-não! Estamos falando a verdade! Somos só dois simples lenhadores, moça! — disse o mais velho, a voz embargada. — Lenhadores? — levantei uma sobrancelha. — E o que dois lenhadores estariam fazendo dentro de um templo sagrado, me espionando atrás dos arbustos? Com machados escondidos? — Foi um erro, a gente se perdeu, achou que era uma cabana... — Vocês acham que sou idiota? — interrompi. — Não sei se deixo vocês saírem vivos... Estão sabendo demais! — completei, com um sorriso cruel nos lábios. O mais jovem começou a soluçar. O outro caiu de joelhos, mesmo amarrado. — Por favor, senhora sacerdotisa! Eu tenho esposa... filhos... sou um homem de família! — Ah, claro. E foi por isso que tentou me agarrar, não é? Para honrar sua mulher? — meu tom era cortante. — Sabe o que eu faço com traidores? — N-não... o quê? — Eu corto suas bolas, faço uma gemada com elas e ainda obrigo a comer. Os dois gritaram ao mesmo tempo: — NÃO! As bolas, não! Eu juro que nunca mais olho pra outra mulher! — Eu também! Por favor, nos solte! Fazemos tudo o que quiser! Limpamos tudo, servimos a senhora... podemos até virar seus escravos! — Hmmm... agora estão mais obedientes. Muito bem. Vou soltá-los com uma condição. — Cruzei os braços e encarei os dois. — Vão limpar todos os arredores do templo, sem reclamar, e depois vão rezar pedindo perdão a Deus por terem tentado algo contra mim. — Trato feito! — Sim, sim! Aceitamos! — Ótimo. Mas se fizerem qualquer gracinha, saibam que as bolas vão rolar. E meus lobos estão famintos... Faz tempo que não comem carne fresca. — AUUUUUUUUU! — AUUUUUUUUU! Uivaram Toby e Mimi. Os lenhadores empalideceram ainda mais, tremendo como se estivessem no meio de uma nevasca. Desamarrei-os, mas deixei seus braços parcialmente presos, como precaução. Mandei que pegassem as ferramentas e começassem a capinar as áreas mais tomadas por ervas daninhas. Enquanto isso, fui buscar outra vassoura para continuar limpando a entrada do templo. Meus lobos não os deixavam sozinhos nem por um segundo. Qualquer movimento suspeito e eles mostravam os dentes. O templo era sagrado. Aqui era meu lar, meu refúgio, minha missão. Eu não permitia que ninguém o violasse — e esses dois haviam ultrapassado todos os limites. Enquanto varria as escadas de pedra cobertas por folhas secas, observei os lenhadores suando e resmungando baixo. Suas mãos estavam calejadas, mas agora a dor era merecida. Essa era uma lição. Uma chance de aprenderem a me respeitar. Mas então, notei algo estranho. Um deles — o mais jovem — olhava de canto de olho para os arredores da floresta. Seus dedos se moviam discretamente, como se estivesse tentando soltar os nós dos cipós. Aproximei-me com passos lentos. Os lobos me seguiram em silêncio. — O que você está pensando? — perguntei, minha voz era mais fria do que o orvalho da manhã. Os lobos rosnaram. O lenhador congelou. — Nada! Juro! Eu só... só estava com medo de algum animal selvagem! — Os únicos animais selvagens aqui são vocês... — rosnei. — Querem que eu purifique até a alma de vocês? Ambos se encolheram. — Não se esqueçam... aqui sou eu quem manda. Sou eu quem tem o poder. A autoridade estava impressa em cada palavra que eu dizia. A tensão no ar era quase sufocante. O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo som das ferramentas cortando a terra e pelos rosnados de Toby e Mimi. Akira Muniz Após uma reunião exaustiva com os consultores da minha empresa, entre números, decisões e pressão, finalmente fechei meu notebook e respirei fundo. Era hora de partir para o único lugar onde eu realmente conseguia respirar em paz: meu chalé. Dirigi por horas até a floresta, o som da cidade ficando cada vez mais distante. O cheiro das árvores, da terra úmida e do vento puro me abraçava como um velho amigo. Mas havia algo sombrio naquela noite. A lua cheia se aproximava. E com ela, a maldição. Estacionei diante do chalé e olhei para o céu. A lua ainda não estava completamente visível, mas eu já sentia as mudanças. A energia começava a correr por minhas veias. Minha pele coçava, meus sentidos estavam aguçados, meu corpo em alerta. A maldição que carregava desde a juventude se intensificava nessas noites. Fechei os olhos e respirei fundo. — Preciso controlar isso… — sussurrei para mim mesmo. — Não posso deixar que tome conta de mim de novo. Sentei-me na varanda de madeira. As mãos tremiam. Ali, onde antes encontrava paz, agora era como uma prisão. Eu estava preso dentro de mim. Preso a algo que não escolhi. Meu chalé, cercado por árvores altas e o silêncio da noite, era a única coisa que me separava do mundo... e de mim mesmo. Sabia que precisava de ajuda, de uma solução. Mas até agora, ninguém havia entendido a profundidade da minha dor. Olhei mais uma vez para o céu. A lua estava quase inteira. — Eu não quero perder o controle — murmurei, sentindo o lobo dentro de mim rosnar, impaciente. Algo naquela noite parecia diferente. Como se um novo destino estivesse se aproximando... E mal sabia eu que, não muito longe dali, em meio ao templo sagrado da floresta, uma sacerdotisa de fogo acabava de enfrentar seus próprios fantasmas. Nossos caminhos estavam prestes a se cruzar. E quando fogo e fera se encontrassem... o mundo nunca mais seria o mesmo.