Capítulo 5
Akira Muniz Era mais uma noite de lua cheia, e eu sabia que aquilo doloroso ia acontecer de novo. Por conta disso, estava atrás de uma solução. Não era justo que eu pagasse pelos erros do meu bisavô. Ele era noivo de uma linda mulher — uma bruxa —, mas a traiu com a melhor amiga dela. Então, ela o amaldiçoou. Eu estava determinado a encontrar uma solução para a maldição que havia sido lançada sobre a minha família. Era injusto que eu tivesse que pagar pelos erros do meu bisavô, que havia traído sua noiva, uma bruxa poderosa, com a própria amiga dela. A lembrança da história da maldição ainda estava fresca na minha mente. Eu sabia que a bruxa havia condenado nossa família, fazendo com que todos os descendentes masculinos sofressem a transformação em besta durante as noites de lua cheia. Eu estava cansado de viver com essa dor e essa vergonha. Queria encontrar uma maneira de quebrar a maldição e viver uma vida normal, sem o medo da transformação. Comecei a pesquisar sobre a bruxa e a maldição, procurando qualquer pista que pudesse me levar à solução. Sabia que seria um desafio difícil, mas estava decidido a libertar minha família dessa condenação. Assim que a lua subiu no céu, veio logo aquela dor de cabeça forte, seguida por uma dor agoniante, como se algo me rasgasse de dentro para fora. Minhas presas cresceram rapidamente, fazendo minha boca sangrar, e, com isso, perdi a razão dos meus atos. Só me lembro de sair correndo, desesperado, mata adentro. A dor começou a se espalhar pelo meu corpo, uma sensação de queimação e estiramento que parecia rasgar meus músculos e ossos. Minha cabeça latejava com intensidade, como se meu crânio estivesse sendo pressionado por dentro. Minha visão se turvou. Perdi o controle. Minha mente foi consumida pela dor e pela transformação. Só conseguia pensar em correr, fugir da dor e da realidade. Disparei mata adentro, sem saber para onde ia, guiado apenas pelo instinto de sobrevivência. A floresta se tornou um borrão de sons e imagens: árvores passando rápido por mim, galhos quebrando sob meus pés. Eu já não sabia mais quem era — apenas sentia a besta dentro de mim rugindo para ser libertada. Foi então que nós, eu e a besta, sentimos um cheiro maravilhoso e adocicado de flores de laranjeira. Mas não era apenas o cheiro… havia algo nele que mexia com meu interior. Sem que eu tivesse controle sobre mim, a besta correu em disparada em direção a onde ela estava. Era uma linda mulher, de cabelos ruivos quase como fogo. Minha besta estava descontrolada, mas, com apenas um olhar, ela deu uma ordem para que eu parasse, me sentasse e desse a pata — e isso me desmontou. Fiquei irritado e, ao mesmo tempo, obediente. Aquela mulher tinha o poder de nos dominar. Não consigo tirar aquela mulher da minha cabeça. A besta dentro de mim suspira por ela, ansiosa. O que está acontecendo comigo? Sinto a fera dentro de mim se agitando, como se tentasse sair da minha pele. O cheiro de flores de laranjeira ainda está presente na minha mente, e posso ver os olhos verdes dela brilhando com intensidade. Começo a me perguntar se estou enlouquecendo. Parece que a besta desenvolveu uma conexão com essa mulher, e sinto que estou perdendo o controle sobre meus próprios pensamentos e ações. Será que ela é a chave para entender o que está acontecendo comigo? Ou será apenas um gatilho para a besta dentro de mim? Preciso de respostas, mas não sei por onde começar. A fera dentro de mim me impulsiona a procurá-la novamente, mas não sei se isso é uma boa ideia. Fênix Souza Assim que acordei, lavei o rosto e a boca, e fui até a cozinha preparar um chá de hortelã. Fiz três ovos de galinha-da-mata e dois ovos de codorna. É uma pena que eu não tenha trigo aqui, pois faria pães para mim. Mas, como não tenho, fico sem. Meus pais eram quem traziam de fora da floresta; não sei como, mas sempre voltavam com algo novo. Enfim, preciso tomar meu café da manhã. Coloquei dois pedaços de carne para meus lobos; eles agradeceram e começaram a comer. Nozes também apareceu para comer o tomate dele. Quando terminei, peguei o papel com o desenho da planta rara que o lobo havia deixado e fui até onde estavam os livros antigos dos meus pais. Precisava saber mais sobre a planta e sobre maldições hereditárias. Sentei-me à mesa com os livros espalhados à minha frente. O papel com o desenho da planta rara estava ao lado, e comecei a folhear os volumes, procurando qualquer menção a ela. Depois de algumas horas, finalmente encontrei um livro que parecia ter informações relevantes. O livro era antigo e empoeirado, mas as ilustrações eram lindas e detalhadas. Encontrei uma página que mostrava uma planta de folhas largas e flores brancas. Ao lado da ilustração, havia uma descrição sobre suas propriedades. — A planta da lua — dizia o livro. — Uma planta rara e poderosa, que só floresce sob a luz da lua cheia. Diz-se que possui propriedades curativas e mágicas, e que pode ser usada para quebrar maldições. Um arrepio percorreu minha espinha ao ler as palavras. Será que essa planta era a chave para quebrar a maldição que afeta a besta? Eu precisava encontrá-la e descobrir mais sobre ela. Continuei estudando até perceber que já era hora do almoço. Coloquei a refeição para os lobos e preparei para mim uma salada e um pedaço generoso de carne assada de javali. Após comer, lavei as vasilhas, deixei tudo limpo, varri a cozinha e voltei para o templo, onde estava estudando a planta da lua. O templo era um lugar tranquilo, perfeito para a reflexão. Sentei-me novamente à mesa, com os livros e o papel à minha frente. Ao retomar a leitura, encontrei uma página que falava sobre a relação da planta com a lua cheia. Comecei a me perguntar se a próxima lua cheia poderia ser um momento crucial para encontrar a planta ou realizar um ritual para quebrar a maldição. Ao folhear, uma folha solta caiu, revelando uma informação desanimadora: a planta da lua só quebrava pequenas maldições, não as hereditárias. Soltei o livro, tomada por um desânimo profundo. Poxa… eu estava tão esperançosa de que essa planta pudesse ajudar a besta. Mas, ao continuar lendo, descobri que a planta possuía propriedades medicinais e podia ser usada para criar antídotos e poções de cura. Era um consolo, mas não o que eu procurava. Eu precisava encontrar algo que quebrasse a maldição hereditária. Será que existem outras plantas ou remédios capazes disso? Devo continuar procurando ou buscar outra abordagem? Sinto que estou perto de uma solução, mas ainda não sei qual é o caminho certo.