O dia parecia comum. Sophie havia passado a manhã inteira entre atendimentos no estúdio e pequenas tarefas que preenchiam sua rotina. Matteo, como de costume, a levava e buscava. Ele fazia questão disso — uma forma silenciosa de proteção, como se não confiasse nem no vento que passava por ela. Sophie, no fundo, sentia-se segura com esse cuidado, mesmo que às vezes quisesse acreditar que já podia andar livremente sem medo. Naquela tarde, quando o movimento acalmou, Matteo recebeu uma notificação em seu celular. Estava encostado próximo à entrada do estúdio, observando Sophie de longe, quando o som da mensagem chamou sua atenção. Ele franziu a testa. O número era estranho, mas a assinatura no final do texto era de alguém conhecido: seu advogado. "Matteo, não consegui contato pelo número antigo. Estou usando este provisoriamente. Tenho boas notícias sobre o divórcio da Sophie, mas não posso enviar detalhes por mensagem. Desconfio que minhas linhas estejam sendo monitoradas. Preciso qu

O relógio do hospital avançava devagar, mas para Matteo cada segundo era uma eternidade. Ele caminhava de um lado para o outro no corredor branco e silencioso, os olhos marejados, as mãos trêmulas. Ainda podia sentir o corpo de Sophie desfalecido em seus braços, como se a vida tivesse sido arrancada dela. Quando o médico enfim apareceu, Matteo quase perdeu o ar. — Ela vai ficar bem. — disse o profissional, com voz firme. — O sedativo era forte, mas não letal. Ela precisa apenas de descanso. As pernas de Matteo fraquejaram de alívio. Ele levou a mão ao rosto, respirando fundo, e então entrou no quarto. Sophie estava ali, deitada na cama, a pele pálida e os lábios entreabertos. Um frágil sopro de vida que o fazia sentir-se ao mesmo tempo destruído e esperançoso. Ele se sentou ao lado dela, segurando a mão pequena e fria. — Minha borboleta… — murmurou, os olhos ardendo. — Você não faz ideia do medo que eu senti. Achei que ia te perder. Os cílios dela estremeceram e, lentamente, Sop

O sol tímido da manhã atravessava as cortinas do apartamento, espalhando uma luz dourada pela sala. Sophie despertou lentamente, a cabeça repousada no peito de Matteo. O ritmo calmo da respiração dele embalava seus pensamentos. Por alguns segundos, ela apenas ficou ali, observando o peito dele subir e descer, sentindo a segurança que sempre buscou. Um sorriso discreto curvou seus lábios. Pela primeira vez em muito tempo, acordava sem medo, sem correntes invisíveis. Matteo abriu os olhos devagar e a encontrou o observando. Um sorriso preguiçoso se formou em seu rosto. — Bom dia… — disse, a voz rouca pela madrugada intensa que haviam vivido. Sophie corou, lembrando-se de cada detalhe da noite. Tentou esconder o rubor atrás de uma expressão séria, mas não conseguiu. Ele riu baixinho e a puxou para mais perto. — Está arrependida? — perguntou em tom suave, mas com um toque de provocação. Ela balançou a cabeça rapidamente. — Não… só estou tentando acreditar que tudo isso é real. Matt

O frio de Paris parecia soprar mais forte quando Sophie deixou o café. Caminhava apressada de volta ao estúdio, os braços cruzados sobre o corpo em um gesto quase instintivo.De repente, um arrepio percorreu sua nuca. Parou por um instante, olhando em volta. A rua estava movimentada, turistas com sacolas, parisienses correndo entre compromissos, garçons recolhendo mesas. Nada de anormal. Ainda assim, havia algo… uma sensação estranha, como se um par de olhos a seguisse.Respirou fundo, tentando afastar aquele incômodo. Talvez fosse apenas cansaço. Os dias de campanha eram longos e intensos. Apertou a câmera contra o peito, buscando aquela segurança silenciosa que sempre encontrava atrás das lentes.Mas, enquanto atravessava a porta de vidro do estúdio, não conseguiu evitar de olhar para trás uma última vez. O coração bateu mais rápido, embora não houvesse nada ali além do fluxo comum da cidade.Do outro lado da rua, sentado em um banco de praça, Leonardo tragava calmamente o cigarro.

O silêncio do apartamento era cortado apenas pelo som acelerado da respiração de Sophie. As cortinas cerradas impediam a entrada da luz de Paris, transformando a sala em uma caverna de sombras.O celular vibrou sobre a mesa. Ela arregalou os olhos. Um número desconhecido brilhava na tela. Por um instante, pensou em não atender. Mas algo dentro dela — talvez medo, talvez instinto — a fez deslizar o dedo.— Alô? — sua voz saiu baixa, quase trêmula.Do outro lado, silêncio por alguns segundos… até que uma voz grave, carregada de sarcasmo e desejo, soou:— Docinho… quanto tempo.O mundo de Sophie parou. O estômago revirou, as mãos tremeram tanto que o aparelho quase escorregou.— L-Leonardo…Ele riu baixo, um som que mais parecia um rosnado satisfeito.— Você achou mesmo que poderia me apagar da sua vida assim? Fugir durante três anos, como se eu fosse um fantasma sem corpo? Você é minha, Sophie. Sempre foi.— Eu não sou sua coisa! — ela respondeu, a voz vacilante mas firme na tentativa d