O vento da manhã trazia aquele cheiro do jardim que Sophie adorava. Enquanto terminava de ajeitar os cabelos na frente do espelho, tentou ignorar o aperto que crescia em seu peito. Vestiu um vestido leve, branco, de tecido macio, que acomodava sua barriga de nove meses com delicadeza. Martha estava ao seu lado, ajudando a ajeitar as mangas e alisando, com cuidado, o tecido na altura dos ombros. — Está linda. — comentou a mãe, sorrindo, mas logo arqueou uma das sobrancelhas, apertando levemente os lábios. — E... como você está se sentindo... sabendo que vai encontrá-lo? Sophie respirou fundo. Olhou para si mesma no espelho, como se buscasse respostas no reflexo. — Eu... não quero pensar nisso. — respondeu, desviando os olhos. — A verdade é que mal consegui dormir nos últimos dias. Fico imaginando como vai ser... o que pode acontecer. Martha apertou de leve sua mão. — Filha... seis meses podem mudar os sentimentos de um homem. Aquilo caiu como um peso sobre seus ombros

O céu em Hampton começava a se tingir de tons dourados, anunciando o fim da tarde. A brisa vinda do mar balançava suavemente as cortinas da varanda, trazendo consigo aquele cheiro inconfundível de sal e liberdade. James estava ali, recostado na grade de madeira, observando o horizonte enquanto conversava com sua mãe, que se sentara numa das poltronas acolchoadas, segurando uma xícara de chá entre as mãos. — Você fez falta, filho. — Cora disse, com aquele tom que misturava leveza e sinceridade. — A casa nunca fica completa quando você está longe. James sorriu de canto, passando a mão pelos cabelos, tentando disfarçar o peso que ainda carregava no peito. — Eu também senti falta de todos... — respondeu, olhando para o mar. — Mas... a verdade é que essa viagem me fez bem. Me colocou para pensar em muita coisa. Cora o observou por alguns segundos, com aquele olhar que só as mães têm — o tipo de olhar que enxerga muito além do que é dito. — Só te peço uma coisa... — ela ajeitou-

O sol da manhã atravessava as cortinas do quarto do hospital, tingindo tudo com uma luz suave, quase dourada. James estava sentado em uma poltrona ao lado da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, olhando para a cena à sua frente como quem observa um quadro raro — desses que se encontra uma vez na vida. Sophie estava serena, exausta, mas com um sorriso leve que parecia não caber no rosto. Nos braços, segurava Chloe, que dormia tranquila, aninhada no colo da mãe como se aquele fosse o único lugar seguro do mundo — e, de fato, era. James não conseguia tirar os olhos delas. A cada segundo que passava, sentia algo dentro dele se expandir, se reorganizar, como se todas as peças que ficaram soltas por meses, agora, magicamente, encontrassem seu encaixe perfeito. O som da porta se abrindo interrompeu seus pensamentos. Ele se levantou instintivamente quando viu Cora entrar primeiro, sorrindo emocionada, com os olhos já marejados. Logo atrás, Martha segurava um buquê de flores, os

O clima já não era mais o mesmo. E nem fazia questão de ser. Se antes havia qualquer esforço para manter a civilidade, agora isso tinha se tornado apenas uma fachada frágil, que rachava a cada troca de olhar, a cada comentário atravessado, a cada silêncio que dizia mais do que qualquer palavra. No escritório em Manhattan, a tensão já era palpável. Funcionários que antes circulavam com naturalidade, agora evitavam estar na mesma sala que James e Liam ao mesmo tempo. O som dos passos mudava, mais apressados, mais leves, como quem tem urgência em não estar presente. — Eu não pedi sua opinião, James — disparou Liam, sem sequer levantar os olhos da tela do notebook. James cruzou os braços, encostando na parede, arqueando uma sobrancelha. — Não, você nunca pede. Só faz besteira e depois finge que sabe o que está fazendo. Liam levantou o olhar, estreitando os olhos. — Cuidado com a maneira que você fala comigo. — E você, cuidado com a maneira que vive sua vida — respondeu, co

James respirou fundo, desviando o olhar, como se aquela simples ação fosse capaz de estancar a enxurrada de sentimentos que o invadia. Deu dois passos pra trás, enfiou as mãos nos bolsos e virou de costas pra Sophie, buscando no próprio corpo algum tipo de âncora que o mantivesse longe do que, no fundo, ele mais queria. Ele apertou os olhos, respirando com força. Era como se todo o autocontrole que cultivou ao longo dos últimos meses estivesse prestes a ruir. E, honestamente, ele não sabia por quanto tempo mais conseguiria se segurar. O que sentia por Sophie estava longe de ser algo tênue, passageiro. Não. Era intenso, devastador. Era o tipo de sentimento que, se fosse alimentado, seria capaz de destruir qualquer convicção, qualquer limite, qualquer razão. E, se antes ele já entendia o quanto era perigoso, agora… agora era muito pior. Muito mais real. — James… — a voz dela veio suave, mas firme. — Olha pra mim. Ele apertou os olhos com mais força, cerrando os punhos dentr