A notícia estourou nas redes sociais às seis e meia da manhã. “Valentina Mancini investigada por ligação com organizações criminosas internacionais. Supostos vínculos com tráfico de influência e lavagem de dinheiro.” O que chamou atenção não foi apenas o conteúdo — vazio e vago, típico de boatos de poder —, mas a origem: um consórcio jornalístico europeu de alta reputação. Assinaturas de repórteres conhecidos. Fontes anônimas “altamente confiáveis”. E, no rodapé, discretamente, a menção a uma “organização independente de combate à corrupção”. Valentina observava o artigo em um dos monitores do salão de guerra. Francesca lia em silêncio. Davide andava de um lado para o outro, furioso. — Eles agiram — disse ele. — Foi a Ordo Veritas. Esta é a primeira exposição pública. Eles colocam a dúvida, e depois esperam que os outros destruam por eles. Valentina cruzou os braços. — E vão continuar. Isso não é um ataque direto. É uma campanha. — Sim — confirmou Francesca. — Já detectamos b

As câmeras estavam posicionadas com precisão. A iluminação era suave, profissional. Nada muito luxuoso — apenas o suficiente para parecer honesto. Real. Valentina sentou-se diante da jornalista com uma postura tranquila. A entrevista seria ao vivo, transmitida por um canal independente de alcance crescente nas redes sociais. Francesca insistira naquele formato. “Se quer reconquistar o público, precisa falar direto com ele. Sem filtros. Sem cortes. Olho no olho.” A entrevistadora, Giulia Perrone, era conhecida por não poupar ninguém. Mas aceitara conversar com Valentina em condições justas — desde que não houvesse perguntas proibidas. — Valentina Mancini — começou Giulia, após a introdução. — A senhora é herdeira de um império associado à criminalidade por décadas. Por que deveríamos acreditar que é diferente? Valentina respirou fundo. — Porque eu nunca pedi para nascer onde nasci. Mas escolhi o que fazer com isso. Quando meu pai morreu, encontrei um império desmoronando — e reco

Francesca digitava sem parar. A tela do computador exibia linhas de código em roxo e verde, o sistema tentando quebrar as camadas de proteção do pen drive entregue por “Thalos”. Valentina observava, sentada ao lado, com os dedos entrelaçados e os olhos fixos na tela como se pudessem furar o monitor. — Qualquer progresso? — perguntou. — A chave parcial deu acesso a um fragmento. É como abrir um cofre com cinco fechaduras e só ter uma combinação. Mas o que vimos já é... explosivo. — Mostre. Francesca pressionou enter. A imagem mudou. Um organograma começou a se formar — uma teia de nomes, empresas, símbolos. No topo, uma sigla. “PROJETCIO – Diretório Central de Influência Oculta” — Eles têm um nome interno? — Valentina franziu a testa. — Isso é parte da Ordo? — É mais do que isso — disse Francesca. — É o que está acima da Ordo. O núcleo que controla as operações, os investimentos, os alvos. Pense na Ordo como os braços. Essa... PROJETCIO é o cérebro. Valentina olhou para o cen

O calor em Tel Aviv era diferente. Não abrasivo, mas constante — como uma camada invisível que apertava a pele e os pensamentos. O céu era limpo, mas Valentina sentia tempestade no ar. A reunião com Malek Haddad estava marcada para as 17h, no terraço de um hotel boutique no bairro de Neve Tzedek. O convite partira dele, informal, direto: "Se quiser conversar, traga silêncio e vista algo que respeite o sol." Davide ficou no hotel, monitorando a segurança. Francesca assistia tudo da Itália, pelos drones e microcâmeras. Mas Valentina iria sozinha. Era o preço por estar no jogo. Ela subiu até o terraço. O som distante do mar misturava-se ao burburinho discreto de turistas. Sentado à mesa, como se esperasse um drinque e não o desmoronamento de uma ordem mundial, estava Malek Haddad. Elegante. Peles morena, camisa branca de linho, pulseiras de couro nos pulsos. Um homem que vestia o perigo com charme. — Signora Mancini — disse ele em italiano perfeito. — Imaginei que não viria. O que

O salão central do mosteiro parecia esculpido no próprio silêncio. As abóbadas de pedra lançavam ecos sussurrantes sobre cada passo dado, e as luzes discretas nas paredes não aqueciam — apenas iluminavam o necessário. Um lugar construído para manter segredos. Valentina, disfarçada como Celine Navarre, atravessava o salão entre figuras vestidas em tons de cinza e preto. Ninguém se olhava diretamente. A linguagem era de gestos sutis, movimentos de cabeça, toques curtos nos comunicadores auriculares. Eram os titereiros do mundo, reunidos à sombra. No centro do recinto, havia um palco elevado com sete cadeiras vazias. Atrás delas, o símbolo da PROJETCIO: um triângulo invertido sobre um círculo dividido por linhas. Abaixo do palco, placas douradas marcavam os nomes dos sete líderes — nomes que não existiam em nenhuma rede pública. Francesca sussurrou no fone: — Cuidado. Dois dos membros do círculo interno já estão presentes: Klaus Van Buren, da Divisão Financeira, e Leena Irah, da Seç