Rui dirige sem rumo. A cidade ao redor parece girar em câmera lenta, como se o mundo estivesse bêbado e ele fosse o único sóbrio, sóbrio demais para aguentar a realidade. Os faróis se tornam manchas disformes, as ruas perdem o nome, o tempo perde o compasso. Mas uma imagem permanece viva, vívida, cortante, Islanne, nua, ofegante, gemendo alto o nome de outro homem. Do seu melhor amigo.Ele freia bruscamente e encosta o carro no primeiro lugar ermo. Sai tropeçando nos próprios passos, tentando respirar, mas o ar não entra. O peito, comprimido, parece prestes a implodir. O que sente não tem nome. É uma tempestade cruel de humilhação, incredulidade e uma vergonha que arde por dentro como ácido.Pega o celular. Nada. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação. Nem uma explicação.— Eu fui só um substituto — sussurra, mas cada palavra pesa toneladas, amarga, sufocante.As memórias vêm como punhais, cortando sem piedade, os cafés com bilhetes, os jantares improvisados, as flores deixadas sem data ma
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