A notícia do casamento não explodiu como escândalo, para frustração de Eloisa e Collor, mesmo com as investidas em torno do boato da infidelidade. Pela primeira vez, a imprensa não tentou deturpar, manipular ou manchar. As manchetes, uníssonas, estampavam: “O amor triunfou: Antonella e Oliver selam união após superarem perdas, enganos e um destino cruel.” E estavam certos. O salão escolhido por Beatriz e Marcos era um santuário de elegância e simbolismo. Um dos mais disputados da cidade, com colunas imponentes de mármore branco sustentando o teto abobadado, de onde pendiam lustres austríacos que derramavam feixes de luz como chuva de estrelas. Beatriz e Marcos não queriam apenas um casamento, sonhavam com uma celebração à altura da história que os noivos carregavam. Não por vaidade, mas para eternizar um recomeço construído com dignidade e bravura. Às oito em ponto, as cortinas de veludo escarlate se abriram com precisão ensaiada. Um tapete carmesim percorria o salão como u

A tarde se estendia preguiçosa pelos jardins do salão de festas. Risos infantis se espalhavam como música leve, misturando-se ao som distante da cerimônia que agora dava lugar à recepção. Balões coloridos flutuavam amarrados nas árvores, enquanto Stella corria descalça na grama, os cachinhos voando ao vento, gargalhando com outras crianças. A babá, sentada próxima à fonte, observava atenta, mas um chamado do celular a fez virar o rosto por breves segundos. Um instante foi o bastante. Uma figura feminina se aproximou sorrateiramente. Eloisa, com óculos escuros grandes demais, um lenço de seda escondendo os cabelos e um vestido floral simples e discreto, passou despercebida entre os convidados. Ninguém imaginaria que aquela mulher, de aparência tão tranquila, trazia nos olhos um desejo sombrio: retomar o que achava ser dela. Ela viu a menina. Tão pequena, tão alegre. O mesmo tom de azul nos olhos que ela um dia sonhou para seu próprio filho. Seu coração apertou, de dor, de invej

Dentro do salão, a música tocava suave ao fundo, misturando-se às conversas animadas e aos brindes que celebravam o momento. Antonella sorria, rodeada por Maya e Elisa, mas havia algo em seu semblante que destoava da leveza ao redor. Ainda que tentasse se manter presente, seus olhos, vez ou outra, desviavam em direção à porta de vidro que dava para o jardim. Foi quando sentiu um aperto estranho no peito, uma angústia súbita, sem explicação lógica, que lhe arrancou o sorriso do rosto. Endireitando-se na cadeira, seus olhos fixaram no vazio como se esperasse ver alguém surgir dali a qualquer instante. — Eu vou ver a minha filha. — disse, levantando-se devagar. — Não sei... estou com uma sensação estranha. Maya a segurou pelo braço com delicadeza, tentando acalmá-la. — Fica tranquila, Ella, a babá está o tempo todo com ela e também, Heitor disse que ficaria no jardim de olho nela. Não tem ninguém mais confiável pra cuidar da Stella do que ele. Antonella hesitou, ainda inquieta.

O banheiro estava tomado pelo vapor quente que subia do chuveiro aberto. A luz suave refletia nas paredes úmidas, e o som da água caindo era o único ruído naquele silêncio denso, cheio de sentimentos não ditos. Antonella deixava a água escorrer pelos ombros, os olhos fechados, os pensamentos ainda confusos, mas aos poucos sendo lavados junto com a maquiagem borrada e os resquícios da noite tumultuada. Seus braços envolviam o próprio corpo, como se tentasse se proteger do mundo lá fora. Oliver entrou devagar, sem dizer nada. Fechou a porta atrás de si, e por um instante, apenas a observou. A mulher que amava estava ali, tão forte e ao mesmo tempo tão vulnerável. O cabelo grudado nas costas, a pele úmida, o corpo exausto... mas ainda assim, era o mais belo retrato de coragem que ele já tinha visto. Ela sentiu sua presença antes de ouvi-lo. Abriu os olhos e se virou devagar, encontrando o olhar dele do outro lado do vidro. Não houve surpresa, nem pudor, apenas um suspiro leve, como

Antonella e Oliver tiraram o dia para ir no médico ver como estava a gestação. Beatriz ficou com Stella em casa, a mansão era uma fortaleza em questão de segurança, onde o casal conseguia sair com um pouco mais de tranquilidade. O sol da tarde aquecia o parque com delicadeza, Beatriz e Elisa decidiram levar a neta para se divertir um pouco junto com outras crianças. Uma brisa leve fazia as folhas dançarem nos galhos das árvores, como se a própria natureza celebrasse aquele momento de paz. A risada das crianças ecoavam pelo espaço, misturando-se ao som distante de bicicletas passando e conversas despreocupadas entre pais e mães. Sentada em um banco de madeira pintado de verde, Beatriz observava com um sorriso cheio de ternura. O olhar acompanhava Stella, que aprendia o mundo com passos pequenos, mas decididos. A menina corria em direção ao escorregador com a mesma empolgação de quem corre para um tesouro. Elisa estava logo abaixo da estrutura, joelhos levemente dobrados, braços este