O silêncio caiu pesado sobre o jardim, como uma mortalha sufocante. Ninguém ousava respirar alto, como se qualquer movimento pudesse quebrar o frágil equilíbrio emocional que restava. Liam sentiu as palavras do pai como um soco no estômago, o ar escapando de seus pulmões como se tivesse sido esmagado por um peso invisível. O som do vento entre as árvores parecia zombar de sua impotência, um sussurro cruel que ecoava em sua mente. Beatriz desviou o olhar, como se não reconhecesse mais o filho que criou com tanto amor e dedicação. Seu rosto estava pálido, os olhos vermelhos de dor e desapontamento. — Vamos entrar! — disse ela, finalmente, sua voz embargada, trêmula. — Já chega por hoje. — Mãe me perdoa... eu juro que nunca mais faço nada que possa vir te decepcionar.— implorou com a voz embargada. — Me decepcionar maís? Eu espero de verdade que você consiga pensar no que fez, Liam.— disse sem desviar os olhos do filho. A dor em sua voz era palpável, e Liam sentiu um peso e

A noite caiu sobre a casa como um véu espesso e silencioso, envolvendo tudo em uma melancolia quase palpável. A luz suave do abajur mal conseguia afastar as sombras que pareciam se arrastar pelas paredes do quarto. Oliver falava em voz baixa com Antonella, os dois sentados lado a lado no sofá. Havia uma inquietação latente no ar, como se cada palavra dita tivesse o poder de despedaçar ainda mais o que já estava fraturado. — Falei com Heitor hoje à tarde. — disse Oliver, os olhos fixos nas próprias mãos trêmulas. — Ele tentou conversar com a garota... mas ela fugiu dele mais uma vez. Ele disse que alguém, de um número anônimo, contou que Liam usou o nome dele pra se aproximar da vítima. Antonella inspirou fundo, tentando conter a raiva e o desespero que se misturavam em seu peito. Era sufocante. Essa confusão estava corroendo cada um deles por dentro. Beatriz mal pronunciava uma frase inteira. Quando o fazia, era apenas com Stella, e mesmo nos momentos em que o assunto parecia dist

O céu começava a clarear quando Liam ainda estava no mesmo lugar onde a irmã o deixara: no chão do quarto, envolto pela escuridão e pelo silêncio. As lágrimas haviam secado, mas a culpa permanecia latejando dentro dele, viva, pulsante, cobrando, esmagando. A voz de Elisa ecoava em sua mente, uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar. "Você foi o monstro da história de alguém" Aquela frase se repetia sem parar, batendo contra seu peito com mais força do que qualquer castigo poderia aplicar. Ele não conseguia respirar direito. Sentia-se sujo. Indigno. E o pior de tudo: incapaz de se reconhecer. Horas se passaram. O sol já riscara o céu, pintando-o com tons quentes que pareciam zombar da dor fria dentro dele. Liam levantou-se trêmulo. O espelho refletiu um rosto abatido, olhos vermelhos, os cabelos bagunçados e a pele sem cor. Mas era ele. Ainda era ele. E era isso que mais o aterrorizava. Ele pegou as chaves do carro em cima da cômoda. Saiu do quarto devagar, sem fazer baru

O caso foi encerrado sem prosseguimento judicial. Como Sophia havia decidido não prestar queixa formal, e como Liam era réu primário, a delegacia registrou o ocorrido como um boletim informativo. A entrega voluntária dele e a ausência de agravantes como violência física acabaram por impedir a abertura de um processo criminal. A polícia o liberou sob orientação de acompanhamento psicológico e advertência legal. Mas o verdadeiro julgamento de Liam começaria do lado de fora. Nos dias que se seguiram, Liam se afastou completamente dos antigos amigos. Parou de responder mensagens, recusou convites, cortou os laços com tudo que antes parecia divertido, mas agora soava fútil. Ele passou a frequentar sessões com um terapeuta indicado por Oliver, algo que no passado zombaria, mas que agora se tornava essencial. Aos poucos, aproximou-se dos irmãos. Heitor, que inicialmente mal queria olhar na cara dele, aos poucos abriu espaço para conversas. As trocas começaram tensas, mas com o tempo,

Um ano e meio se passou desde que Antonella venceu a maior batalha de sua vida. O câncer agora era apenas uma lembrança distante, marcada por cicatrizes que ela carregava com orgulho, não como feridas, mas como medalhas de sobrevivência. Com o apoio incondicional de Oliver, Antonella abandonou o diploma de medicina. Não por desistência, mas por libertação. Depois das mentiras espalhadas na imprensa, dos julgamentos cruéis e olhares tortos nos corredores do hospital, ela percebeu que não precisava de um título para provar seu valor. Ela queria viver do que amava, e, surpreendentemente, era outra paixão que pulsava nela: carros. Oliver acreditou nela antes mesmo que ela mesma acreditasse. Foi ele quem esteve ao seu lado quando ela abriu as portas da loja de carros importados, a “Velocità”, com um sorriso no rosto e a filha no colo. A loja rapidamente se tornou um sucesso, não só pelos veículos exclusivos, mas pelo carisma genuíno da dona, que tratava cada cliente como se estivesse o