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capítulo 3 - A Queda do Camarote

LEONARDO

Apenas peguei meu uísque na mesa e bebi. Foi quando Victor, meu braço direito, se aproximou da mesa, o rosto fechado, respirando fundo. Ele parecia tenso, mas leal.

— Léo, preciso te falar uma fita agora. É da Amanda. — Victor evitou meu olhar.

Eu franzi a testa, largando o copo. — O que foi? Deu caô na pista de novo?

— Não é caô. É que a Amanda... ela tá muito pilhada com a amiga dela. A Emily. Não sei o que essa garota meteu na cabeça, mas ela tá falando que vai sair do morro amanhã de manhã. Disse que não aguenta mais essa vida. E ela tá lá embaixo, brava, chorando, esperando a Amanda pra ir embora.

O nome me atingiu no meio da testa. Emily. O nome que eu devia ter guardado por nove anos. A garota que correu de mim quando cheguei.

Olhei para baixo, onde Victor apontava discretamente. Naquela cadeira isolada, perto da barraquinha de bebidas, estava a mesma garota que tinha passado apressada pelo camarote. Cabelo na cara, ombros tensos. Ela era pequena, mas a postura era de quem estava em guerra.

Aquela era a garota do chicletinho que a Amanda estava servindo. A garota que a Júlia defendeu.

O corpo dela parecia pequeno na cadeira. Ela estava chorando, mas não era um choro de dor; era de revolta.

Merda.

A porra da dívida estava aqui. No meio do meu baile de posse, chorando e conspirando a fuga.

— Você disse que ela vai sair com a amiga? — Minha voz saiu num fio, cortando a música. Olhei Victor nos olhos. — Essa amiga é a Emily?

— É ela, Léo? A garota da dívida? - Se ela for, o Mago vai ter que resolver a briga deles, e isso vai estragar a festa.

Eu não ouvi o resto. O corpo dela, que parecia insignificante sentado ali, de repente ganhou o peso de nove anos de espera. A garota não era só a promessa, ela era a chave do respeito que meu pai me exigia.

Eu larguei o copo na mesa. O uísque derramou.

— Mago! Você fica na pose para mim. Essa fita não é mais só briga de mulher.

Eu me virei, descendo as escadas sem paciência. A noite mal tinha começado, e a primeira ordem do novo chefe seria impedir um sequestro. O meu sequestro. A minha mulher.

Eu ia pegar aquela garota. E ela ia aprender, de um jeito ou de outro, que dívida no morro sempre é paga.

POV EMILY

Eu estava na cadeira, encostada no balcão de bebidas, sentindo as lágrimas secarem no meu rosto, quentes e salgadas. Eu não chorava de tristeza, mas de raiva e esgotamento. A música pulsava, a pista fervia, mas eu estava num vácuo. Meu plano de ir embora dependia da Amanda, e ela tinha sumido lá pra cima com o Mago.

De repente, senti o ambiente mudar. Não era a música, era o movimento. As pessoas mais próximas começaram a se afastar, abrindo um corredor invisível. Olhei para a frente e meu coração falhou uma batida.

Léo.

Ele estava vindo. Desceu os últimos degraus do camarote como se fosse o próprio dono da gravidade. O casaco de couro preto, o rosto sem expressão. Ele era ainda maior de perto, e a fúria dele irradiava, engolindo o volume do funk.

Parou a um metro de mim. Seus seguranças se posicionaram em volta. Eu levantei da cadeira, instintivamente.

— Tu achas que pode simplesmente ir embora? — A voz dele era baixa, controlada, mas cortou o barulho da quadra. Ele estava falando comigo. — Levanta daí e sobe. Agora!

Senti o pânico gelado, mas a vodka me deu uma coragem estúpida.

— Não vou para lugar nenhum com você! — Minha voz tremeu, mas saiu. — Eu não sou sua. Não sou uma mercadoria!

Ele deu um passo na minha direção, o olhar fixo e perigoso.

— Você é uma dívida. E eu estou aqui pra cobrar. Não me faça perder tempo na minha própria festa. Anda!

Ele esticou a mão. Eu recuei. Um pequeno círculo de curiosos se formava, os olhares pesando em mim.

Foi quando ouvi o grito.

— Recua, Léo!

Amanda. Ela tinha descido como um raio, empurrando um dos seguranças dele. Se colocou entre nós dois, os cabelos vermelhos parecendo fogo sob as luzes.

— Ela não vai pra porra nenhuma com você! — Ela apontava o dedo na cara dele. — Ela não é sua! É uma pessoa!

Léo nem piscou. Olhou para Amanda com o desprezo de quem via um inseto barulhento.

— Sai da frente, Amanda. Você sabe que não quer se meter nisso. Victor é meu braço. Não queira perder ele por causa dessa fita de fugir.

— Não ligo pro Victor! Ele já escolheu o lado dele! E você não vai tocar na Emily!

Amanda me empurrou para trás, e eu entendi o sinal. Ela me deu a chance. Eu precisava correr.

Léo agarrou o braço de Amanda com força, tirando-a do caminho.

— Some daqui! — Ele a jogou de lado, sem violência, mas com força suficiente para fazê-la cambalear.

Naquele instante, a distração foi criada.

Eu nem pensei, apenas corri. Me joguei na multidão, empurrando corpos suados, movendo-me contra o fluxo de pessoas que iam para a pista. Eu não olhei para trás, mas ouvi o grito dele.

— Peguem ela! Agora!

Corri como se minha vida dependesse disso, e dependia. Saí da quadra principal, mergulhando no labirinto de becos escuros e vielas apertadas da favela.

— Emy! — Ouvi o grito da Amanda. Ela estava vindo.

Apertei o passo, meus pulmões queimando. Cheguei ao final do beco, onde a escuridão era quase total. Eu não sabia para onde ir.

— É por aqui! — A voz ofegante da Amanda surgiu do meu lado. Ela me puxou. — Eu peguei a chave da moto de Victor

Havia uma moto de trilha parada ali. Amanda montou rapidamente e me puxou para a garupa.

— Segura firme! Ele mandou a contenção atrás!

Ela deu a partida. O motor roncou alto, cortando o som distante do baile. Em um instante, arrancamos morro abaixo, descendo as ladeiras esburacadas em alta velocidade. O vento cortava meu rosto, e a sensação de perigo se misturava à adrenalina.

Léo não estava atrás de mim. Léo estava atrás da dívida. E eu acabara de me tornar uma fugitiva no morro dele.

— Essa porra não vai acabar fácil, Amanda! — gritei contra o vento, agarrada a ela.

— Eu sei, fio! Agora reza para a gasolina dar até a divisa!

O morro ficou para trás, mas a perseguição estava apenas começando.

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