2010

O céu estava encoberto por nuvens baixas e pesadas quando Luana chegou à cidade grande. O ar tinha cheiro de poluição misturada a promessas não ditas. Ela desceu do ônibus com a mochila nas costas e uma mala puxada com esforço. Os cabelos presos num coque improvisado, os olhos atentos a tudo e a todos. Era sua estreia — sua chance de recomeçar.

Rafael a esperava na calçada, encostado no carro com os braços cruzados. O rosto sério suavizou-se quando a viu, mas só por um instante. O abraço entre eles foi rápido, quase formal, mas por dentro ela sabia: o irmão ainda era seu porto seguro. Só que agora, ela queria navegar sozinha.

— Está mais magra — comentou ele, abrindo o porta-malas.

— Você está igual — respondeu, forçando um sorriso. Não queria que a voz tremesse, mas tremeu. O reencontro trazia um passado inteiro à tona.

O apartamento dele era pequeno, funcional. Ficava no sexto andar de um prédio antigo, de corredores estreitos e vizinhos silenciosos. Luana teria seu próprio qua