A manhã chegou nublada, arrastando consigo um peso no ar que Helena não sabia explicar. No espelho do banheiro, seu rosto parecia mais duro. Olheiras fundas, os lábios secos, o olhar afiado de quem já não se via apenas como jornalista — mas como testemunha de algo maior. Talvez até como cúmplice, embora ainda não soubesse do quê.

A matéria estava quase pronta. Rafael passara boa parte da noite compilando as ligações entre desaparecimentos antigos e apresentações musicais de um artista emergente conhecido por todos como Lucky Valley, mas que em registros civis antigos atendia por Lucas R. Valdez. Um nome enterrado, trocado, esquecido... mas que agora ressurgia como um sussurro que ganhava forma de grito.

— Se publicarmos isso... — murmurou Rafael, ajeitando os óculos enquanto lia a introdução da matéria — vai ser como detonar uma bomba. E não só na carreira dele. Isso aqui é coisa de polícia.

Helena assentiu lentamente, mas seu coração estava em guerra. Por