O trem parou lentamente na plataforma de Porto Alegre naquela manhã fria de outono, enquanto a névoa ainda se dissipava entre os prédios altos e as árvores amareladas. Lucas Valdez desceu com uma mochila surrada nas costas e um olhar que parecia perdido entre o passado e o presente, como se carregasse um peso invisível que o prendia a um tempo que não queria — ou não podia — deixar para trás.
Ele não era mais o garoto tímido que corria pelos corredores da escola, nem o jovem artista sonhador que um dia acreditou que poderia conquistar o mundo. Agora, era apenas Lucas: um estranho entre milhares, uma sombra que tentava se mover despercebida nas ruas da cidade que um dia chamara de lar.As primeiras impressões do bairro residencial onde alugara um pequeno apartamento foram quase imperceptíveis para os outros, mas para ele, cada detalhe trazia um eco de memórias. O som distante de uma sirene misturava-se ao cheiro adocicado do café vindo de uma padaria na esquina, e o