Amiel
Enfiar-me na casa do Antero foi o único jeito razoável — ou insanamente impulsivo — que encontrei para ficar perto da minha fêmea. Uma jogada ousada, sim, mas cheia de intenções puramente estratégicas... e, quem sabe, um pouquinho emocionais. Só que, assim que entrei naquele território marcado por ele, percebi que o preço da minha esperteza era mais alto do que eu imaginava.Ela olhava pra ele com amor. Amor, com A maiúsculo. Daquele que brilha nos olhos, que embaça o ar ao redor, que pesa no peito de quem observa. Pra mim? Um olhar frio, medido, quase clínico. Como se eu fosse um remédio que ela tivesse que tomar um dia, mas que ainda tentava evitar. Eu, um lobo de quase quatro séculos, reduzido a um comprimido amargo. Que derrota. A vitória de estar perto dela simplesmente não compensava aquele desdém que queimava mais do que qualquer cicatriz de batalha. Mas recuar? Nunca. Já conquistei muito na vida sendo insistente. Persistência é charme, não é o que dizem?Tenho um quarto