6- " Fugindo de quem?"

Angeline mantinha os olhos nele, que com um movimento rápido, soltou seu braço, mas não antes de seus dedos roçarem levemente sua bochecha, provocando, nela, um arrepio que subiu-lhe pela espinha. Angeline recuou um passo, o coração batendo acelerado, misturando alívio e confusão.

Ele a olhou de cima a baixo, avaliando-a com precisão, sem julgamento, apenas curiosidade e um toque de alerta.

— Fugindo de quem desta vez, ladrazinha? Perguntou, a voz baixa e firme, carregada de uma autoridade natural que dispensava esforço.

Angeline engoliu em seco, sentindo o peito apertar. O coração batia tão forte que parecia ecoar pelos corredores. Não era apenas a surpresa do encontro; era a presença dele. Havia algo nele, no modo como a observava, imóvel, mas dominante, que a desconcertava. O contraste com Marco era gritante: onde Marco a sufocava, ele a desarmava.

O silêncio entre os dois se estendeu por um instante que pareceu mais longo do que de fato fora. Ela tentou desviar o olhar, mas falhou. Havia algo de perigoso e familiar naquele homem, um magnetismo silencioso que a deixava ao mesmo tempo apreensiva e, de forma inexplicável, segura.

Passos ecoaram no corredor. Dante puxou-a para junto do peito e ambos se esconderam atrás de uma cortina pesada de veludo, que velava a porta da sacada.

Ela, encolhida nele, tremia levemente; a proximidade era um abrigo instintivo e, ao mesmo tempo, um alerta. Se Marco a encontrasse ali nos braços daquele homem, Angeline não sabia o que poderia acontecer.

— Onde está minha arma? Perguntou Dante, com a voz magnética, baixa e fria.

Angeline saiu do transe dos devaneios e tentou recompor-se.

— Não sei do que está falando. Respondeu, tentando disfarçar o nervosismo.

— Sabe sim. Aquele dia, no trem… você a pegou. — Dante segurou o braço dela com força controlada, seus olhos, escuros como a noite, presos nos verdes dela, que piscavam nervosamente.

— Me solte ou vou gritar. Disse ela, erguendo levemente o queixo, a voz trêmula, buscando firmeza.

— Será? Respondeu ele, erguendo uma sobrancelha. Havia na voz dele a confirmação de que ela não fugia dele, e sim de alguém.

Ela puxou o braço para se afastar; ele a segurou mais firme, aproximando-a ainda mais, as mãos dela tocaram o peito largo e firme. — Espero que da próxima vez que nos encontrarmos você traga minha arma. Murmurou perto do ouvido dela, e havia, naquela frase, mais aviso do que ameaça. Dante a soltou, ela deu um passo para trás.

— Querida, onde estava indo?  A voz de Marco soou atrás dela, firme e controlada; mas, para quem ouvisse de longe, soaria apenas carinhosa.

Angeline se virou depressa. Olhou para o corredor, mas o estranho já havia desaparecido. Por um instante, se perguntou se Marco o tinha visto.

— Me perdi... Respondeu, forçando leveza na voz. — Não consegui encontrar o banheiro.

Marco esboçou um sorriso que não chegou aos olhos. Aproximou-se e passou o braço em volta da cintura dela, o aperto firme o suficiente para ser um aviso.

— Precisa me avisar quando sair do meu lado, cara mia. Este lugar é cheio de desconhecidos.

Angeline assentiu, engolindo a tensão. Caminhou ao lado dele, tentando disfarçar o tremor nas mãos. Ainda podia sentir o perfume amadeirado daquele homem, impregnado em sua pele, misturado ao próprio medo.

Antes de sair do corredor, virou-se discretamente. O espaço estava vazio, apenas o eco distante das vozes no salão.

Do alto do mezanino, Dante a observava. O brilho dos lustres se refletia em seus olhos enquanto ele levava a taça aos lábios.

Deu um gole lento no champagne e sorriu de canto.
"Então é com ele que você anda, ladrazinha..."

Angeline olhava discretamente à sua volta.

— Parece preocupada? Marco notou o olhar inquieto e o leve tremor nas mãos dela.

— Não é nada... apenas estou cansada e com fome. Respondeu, evitando encará-lo enquanto pegava uma taça de champagne da bandeja de um garçom que passava.

Segurou firme a taça, tentando disfarçar o nervosismo. Ainda podia ouvir a voz do estranho ecoando em sua mente: “Espero que da próxima vez traga minha arma.”

Ele sabia quem ela era? Estava vigiando-a? Como descobrira que fora ela quem pegara a arma?

Tantas perguntas se misturavam à presença invisível dele, uma presença que parecia segui-la, mesmo com o ar frio e possessivo de Marco ao seu lado.

No salão, Margaret desfilava com seu vestido vermelho chamativo. Era loira como a mãe, de olhos castanhos. Não chegava a ser uma beldade, mas tinha uma beleza sofisticada, segura de si, com um toque de sedução que sabia usar.

Parecia experiente e naquele momento, buscava provocar ciúmes em Marco, observando-o de longe com um meio sorriso estudado, enquanto falava com o filho de um banqueiro de Mônaco.

Angeline, por outro lado, exibia uma beleza diferente: cabelos castanhos-claros, ondulados e naturalmente dourados pelo sol, que lhe conferiam um ar rebelde. Seus olhos verdes, lábios delicados e feições suaves lhe davam, porém, um contraste de inocência. Era uma mistura única... e perigosa.

Marco levou Angeline até o bufê, onde um homem rechonchudo, de bigode aristocrático e riso fácil, o cumprimentou com entusiasmo. Ao lado dele, a esposa, uma mulher mais jovem, coberta de joias que cintilavam sob as luzes douradas do salão, os observava com desdém.

Os olhos dela deslizaram por Angeline dos pés à cabeça, e um leve torcer de nariz denunciou seu julgamento silencioso.

Marco, alheio àquilo, começou a falar sobre negócios, citando cifras, contratos e investimentos. A voz dele soava distante aos ouvidos de Angeline.

Ela respirou fundo, tentando se concentrar, mas o ar parecia pesado. O perfume forte das flores, o burburinho das conversas e o tilintar das taças a envolviam como uma névoa sufocante.

Seus olhos vagaram pela multidão, buscando algo que nem ela sabia o que era, até que o encontrou.

O homem misterioso.

Ele estava a poucos metros, entre um grupo de homens que riam de algo que ele aparentemente dissera. Mas ele não ria. Seus olhos, frios e intensos, estavam fixos nela.

Por um instante, o mundo pareceu se calar. O som, as vozes, até mesmo a presença de Marco ao seu lado desapareceram.

Havia apenas aquele olhar, o dele atravessando o salão como uma lâmina silenciosa.

Angeline desviou o olhar, o coração disparado, sentiu o peso da presença dele ainda sobre si, como se a encarasse mesmo quando ela já não ousava olhar de volta.

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