5- " Você é minha."

Uma semana havia se passado, e Angeline mal conseguira sair ao jardim, sempre com um segurança a poucos passos de distância. Seu pé já estava curado quando, naquela manhã, uma das empregadas entrou trazendo uma grande caixa creme, envolta por uma fita de cetim dourada.

Ao abrir, encontrou um vestido marsala de mangas longas, tecido nobre, elegante e provocante. Assim que o vestiu, o tecido se moldou ao seu corpo como uma segunda pele. Sentiu-se exposta, nua. Sem pensar duas vezes, tirou-o e o devolveu à caixa.

Abriu o guarda-roupa e escolheu um vestido leve, de alças finas e saia em babados de voal, em um tom suave de rosa.

Não tinha vontade alguma de ir àquele jantar, mas toda a família compareceria e Marco, claro, não a deixaria para trás.

Talvez, pensou ela, encontrasse ali uma oportunidade de fugir novamente.

Prendeu os cabelos em ondas soltas que desciam em cascata, usou pouca maquiagem; sua pele perfeita não precisava de disfarces.

Os olhos verdes, grandes e expressivos, davam-lhe um ar ao mesmo tempo inocente e perigoso. Os lábios, levemente rosados, contrastavam com o vestido que realçava sua cintura e a delicadeza dos ombros.

Quando Marco desceu do carro a viu, não com o vestido que ele escolhera, uma sombra de irritação passou por seus olhos. Ainda assim, conteve-se e sorriu.

— Você está linda. Disse, inclinando-se para beijar-lhe, ela mal teve tempo de reagir. Ele puxou-a e a beijou de forma brusca, como se marcasse sua posse. Rubens, Margaret e Veronica assistiram sem ter coragem de intervir.

Quando Angeline finalmente escapou, sentiu o gosto metálico do medo misturado à raiva.

De fato, ele achou-a linda. Linda até demais. O vestido que ele mandara confeccionar a deixaria mais madura; aquele, porém, realçava algo mais perigoso à mistura de pureza e desafio que o desarmava, sua petulância o irritava e atraia, a inocência o fascinava.

Até Milão, seriam pouco mais de uma hora de viagem.

Margaret caminhou apressada, desejando ir com Marco e Angeline, mas Rubens a barrou.

— O nosso carro está logo ali. Disse, com um tom frio.

Verônica não gostou. Observou Angeline entrar no carro e pensou, amarga, já que ela não queria Marco, ao menos devia sair do caminho para que Margaret pudesse tomá-lo.

Angeline, contrariada, entrou no carro. Marco fechou a porta e, ao se sentar, desviou o olhar para ela, que parecia distante.

— Ainda está chateada com aquele episódio bobo? Perguntou, levando a mão em direção a ela.

Angeline se encolheu.

— Esqueça isso. É uma bobagem… apenas um beijo sem importância. Disse ele, sua voz grave.

Os olhos de Angeline refletiam espanto diante da tranquilidade com que ele dizia aquilo.

Ela levou a mão para abrir a porta do carro, mas ele a puxou para si novamente. Sem avisar, a beijou com uma mistura de fúria e urgência.

Angeline se sentiu sufocada e irritada. Quando ele finalmente a soltou, suas mãos tremiam. Ela ficou atônita. Ele aproveitou o momento para arrancar com o carro, sem se importar com quem assistia.

Quando Angeline voltou a si, já estavam na estrada. Um vazio tomou conta de seu peito. Ela se conteve, segurando as lágrimas, enquanto observava o fim da tarde pela janela: o céu nublado refletia perfeitamente sua mente confusa, turva e vazia como a estrada.

Ela mantinha os olhos fixos na janela, sentindo o olhar dele como uma presença constante sobre si. Cada sombra e luz refletida na vidraça parecia carregar o peso daquele olhar, e seu coração acelerava, mesmo sem querer.

Quando o manobrista abriu a porta, Angeline escapou em busca de ar, quase instintivamente, como se tivesse passado dias presa em um calabouço. Seus passos eram hesitantes, sem direção definida, apenas tentando se afastar da tensão que a sufocava.

Mas a mão dele a alcançou antes que pudesse se distanciar. Um puxão firme a trouxe de volta, e o braço dele se enroscou em sua cintura, seguro, protetor e intimidador ao mesmo tempo. Angeline sentiu o corpo reagir contra a própria vontade: um frio percorreu sua espinha, e suas bochechas se aqueceram.

— Se comporte, por favor. Disse Marco, a voz baixa, firme, mas com um toque de suavidade. — Depois, me peça o que quiser, e eu lhe darei.

Angeline virou o rosto, encontrando seus olhos intensos. Um leve sorriso escapou, natural e involuntário, colorindo seus lábios de um rosado delicado.

— O que eu pedir? Murmurou, uma mistura de desafio e curiosidade em cada sílaba.

— Nem pense nisso. Respondeu ele, aproximando-se do ouvido dela. A voz era grave, carregada de promessa e autoridade. — Você é minha.

Antes que ela pudesse responder, um banqueiro aproximou-se. Marco apertou ainda mais sua cintura. O homem beijou a mão dela demoradamente, e a irritação de Marco se tornou palpável.

Durante o jantar, Marco a manteve colada ao seu lado como se fosse parte de seu traje. Angeline sentia os olhares, os sussurros, a inveja e a própria exaustão.

Marco estendeu a mão ao homem, e Angeline sorriu mecanicamente. O homem, no entanto, brilhou os olhos ao estender a mão para ela; um olhar demorado sobre o corpo dela deixou-a ainda mais desconcertada.

Marco fechou o semblante, apertando ainda mais a cintura de Angeline, deixando claro que não abriria mão de sua posse.

Em dado momento, um grupo de comerciantes se reuniu em torno de Marco e de seu pai, Dario. Rubens, pai de Angeline, não querendo perder a oportunidade, se infiltrou entre eles.

Então Dante chegou.

Sozinho. Elegante. Impecável no preto.

Sorriso discreto, postura de quem não precisa ser anunciado. A sala se curvou ao redor dele, homens endireitaram a postura, mulheres o acompanharam com os olhos.

Ao cumprimentar o anfitrião, sua atenção desviou.

Um movimento rosado em sua periferia.

Ele virou o rosto… e a viu... A garota do trem, era Angeline.

O mundo ao redor silenciou por um instante.

Os olhos verdes intensos, os mesmos do trem.

O vestido leve, contrastando com o ambiente pesado.

E Marco… segurando-a pela cintura.

Os olhos de Dante escureceram.

A mandíbula trincou.

O punho fechou discretamente ao lado do corpo.

Reconhecimento. Raiva. E uma curiosidade perigosa.

Angeline aproveitando-se do movimento e da distração de Marco, deslizou para fora do alcance dele, respirando quase aliviada, caminhou entre as pessoas que falavam de assuntos que não tinham sentido para ela...

Subiu a escada apressada, levantando a barra do vestido para não tropeçar e desviando com cuidado dos serviçais que passavam pelos corredores silenciosos, com as bandejas de bebidas.

Quando acreditava estar a salvo, sentiu de repente uma mão quente e firme segurando seu braço, puxando-a para trás. O susto a fez prender a respiração.

Ela girou, pronta para enfrentar Marco.

Mas não era Marco.

Eram olhos escuros, profundos, perigosos.

Olhos que ela reconheceu de imediato.

Os olhos que volta e meia invadiam sua mente desde o encontro no trem.

Ela o encarou.

A sombra de um sorriso frio lhe tocou os lábios.

E naquela aproximação silenciosa, intensa, algo se rompeu no destino dos três.

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