4- " Se casar logo."

No meio da tarde, Angeline ainda estava trancada em seu quarto. Ninguém havia ido vê-la. Sem comer, deitada apenas de pijama curto, esperava a hora em que seu pai viria dar-lhe um sermão, culpando-a por ele ainda não fazer parte do grupo de Marco.

Seus olhos pesavam, combinados com a fome, quando ouviu o barulho das chaves girando na porta. Suspirou, pensando: Ele chegou mais cedo do que eu previa. Achava que se tratava de seu pai.

Marco abriu a porta e entrou elegante, calça preta e polo branca. Nas mãos, trazia uma caixa de bolinhos de sua padaria favorita e uma sacolinha da farmácia.

— Como está seu pé? Perguntou ele, gentil.

— Melhor… o que está fazendo aqui? Respondeu ela, sem entusiasmo, mas com água na boca ao sentir o aroma adocicado de baunilha preencher o quarto.

— Está com fome? Eu trouxe seus bolinhos favoritos… — Ele mantinha a voz calma e terna.

Angeline manteve os olhos no chão.

— Angel… ontem… por favor, não era o que você está pensando. Aquela sua irmã é louca… Disse ele, hesitando.

Angeline levantou os olhos e o encarou.

— Você tem certeza? E… ela não é minha irmã.

— Claro que sim. — Ele sorriu levemente. — Eu mandei que ela viesse aqui para dizer-lhe a verdade!

"Ela está com ciúmes?" Ele se perguntou, satisfeito.

— Me dê os bolinhos. Meu pai me prendeu aqui e me deixou sem comida. Disse Angeline diretamente, era sua maneira de se vingar de seu pai, que certamente estava escutando os conselhos de Verônica e Margaret.

— Como é? Marco franziu o cenho, entregando-lhe a caixa.

— Isso que você ouviu. Estou presa aqui desde ontem, sem comer ou beber. Disse Angeline, mordendo o bolinho com satisfação, os olhos brilhando.

Marco observou aqueles olhos e lábios provocantes.

— Vou falar com ele. Disse, levantando-se, lançando um olhar discreto para as pernas dela, expostas pelo pijama curto. Seus batimentos aumentaram significativamente.

Angeline continuou comendo os bolinhos. Marco pegou a sacola e se aproximou dela com um pote de pomada na mão. Sentou-se diante dela.

— Me dê seu pé. Pediu, retirando a pomada da caixa.

— O que é isso? Ela perguntou, relutante.

— É para seu tornozelo. Você quer ficar presa aqui? Ele aproximou-se um pouco mais. — Me dê seu pé. Vou falar com seu pai para liberá-la, desde que prometa que não vai fugir. Esqueça o que viu ontem. Só tenho olhos para você. Vou fazer Margaret dizer a verdade.

— Esqueça… não perca seu tempo. Respondeu ela, firme, notando algo que não combinava com a imagem impecável de Marco: Os dedos dele estavam avermelhados, as falanges raladas, como se tivesse socado algo... ou alguém.

— Angel, deixe de ser teimosa! Disse ele, puxando a perna dela. Ela franziu o cenho, pois o pé doeu com o movimento brusco.

Vendo o rosto dela, ele suavizou a voz:

— Desculpe… ando tenso, e a mínima possibilidade de você ficar chateada comigo me deixa nervoso.

Ele voltou a ficar calmo e começou a passar os dedos sobre a pele do tornozelo dela com a pomada.

Angeline sentiu um calor local; ele massageava concentrado. Apesar da apreensão com a proximidade dele, o deslizar dos dedos era relaxante, e um leve calor subiu às suas bochechas e orelhas.

Quando Marco levantou os olhos, encontrou-a imóvel, com no canto da boca um pouco de açúcar refinado dos bolinhos, e a bochecha rosada como se estivesse com febre leve.

Seus olhos se encontraram por alguns segundos intensos...

Marco pigarreou, como se quisesse disfarçar o próprio descompasso. Antes de se levantar, estendeu a mão, a mesma com falanges machucadas e, com o polegar, tocou de leve os lábios dela, limpando o açúcar que restava.

Angeline se moveu, desconcertada, sentindo uma cócega leve nos lábios, piscou, desviando o olhar de volta para os dedos dele.

Marco sorriu de leve, quando percebeu o olhar dela, escondeu a mão discretamente no bolso.

— Vou falar com seu pai. Não faça nenhuma arte, ok?

Saiu antes que cometesse uma loucura. Ao chegar à porta, virou-se parcialmente:

— Temos um jantar em Milão… vou encomendar um vestido para você. É uma boa oportunidade, já que você queria tanto conhecer a cidade.

Disse isso sem olhá-la, e o som de seus passos ecoou pelo corredor até desaparecer.

Angeline soltou um riso curto, entre o cansaço e a ironia. Aquilo tudo era tão exaustivo.

Abriu a pequena caixa em seu colo, tirou mais um bolinho e o levou à boca, mastigando devagar, saboreando como se aquele fosse seu único ato de liberdade e rebeldia.

No fim da tarde, como previra, seu pai apareceu.

Não veio lhe dar um sermão, pelo menos não o fez, embora fosse exatamente o que passara o dia inteiro planejando.

Pouco antes de voltar para casa, recebera uma ligação de Marco. Do outro lado da linha, o tom dele era frio e direto, com aquela calma que carregava ameaças disfarçadas.

Disse que já havia falado com Angeline, que ela prometera se comportar, e que, portanto, não havia mais necessidade de mantê-la trancada, bastava evitar que ela saísse da mansão, “por causa do pé ferido”.

No meio da conversa, citou, com desagrado, o fato de ela ter ficado sem comer, e o pai, envergonhado, tentara disfarçar o desconforto que sentiu ao perceber o tom de reprovação por parte de Marco.

Rubens encarou Angeline, o olhar reprovador, mas com um sorriso falsamente gentil nos lábios e a voz carregada de uma paciência ensaiada.

— Querida, não te tranquei para te punir, e sim para te proteger. Veja, você saiu ontem e se feriu... não fosse por Marco, tão gentil e atencioso, o que seria de ti agora?

Angeline revirou os olhos. Seu pai merecia um prêmio pela atuação.

— O senhor sabe o que ele estava fazendo ontem? Perguntou com firmeza.

— O... o que Marco poderia estar fazendo para você sair daquela forma? Ele titubeou.

— Estava aos beijos com aquela ali. Angeline apontou para a porta, justamente quando Margaret apareceu, de olhos baixos, as mãos entrelaçadas diante do corpo.

— Pai, não entenda mal... foi apenas um mal-entendido. Angeline viu errado.

— O que está dizendo?

— Não é bem assim, Angeline tem ciúmes da boa relação que tenho com Marco.

— Margaret não faria isso. Disse Rubens, tentando apaziguar.

— Pai por favor, não é como Angeline diz... pergunte a Marco! Tentou se defender Margaret, quase chorando.

Rubens suspirou e voltou-se para a filha, num tom conciliador que só piorava tudo.

— Angeline, querida, não leve as coisas tão a sério. Desde que você está com Marco ele só tem olhos para você. E, além disso... ele é homem, é natural que, se uma mulher se oferece, seja difícil se controlar. Vocês deviam se casar logo, acabar com essa confusão toda.

Margaret ao ouvir Rubens ficou vermelha, mas sua situação já era difícil, então engoliu calada.

Angeline soltou um bufo, sorrindo com ironia diante do absurdo que acabara de ouvir.

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