Aos dezoito anos, na minha cerimônia de maioridade, eu deveria escolher um dos dois filhos do Alfa para ser meu companheiro. Na outra vida, eu escolhi o caçula, Caio, que me traiu e me matou.
Desta vez, escolhi o Carlos, filho mais velho e violento.O que eu não imaginava era que Caio também tinha renascido.
Assim que saí da sala de reunião do Alfa e atravessei o campo de treinamento, vi Caio treinando de espada com um grupo de lobos.
Um clarão de luz fria passou e uma lâmina prateada escapou da mão dele, caindo a três passos de mim com um estrondo metálico.
— Pegue. — Caio ordenou, com o mesmo tom habitual, sem nem levantar a cabeça.
Os que estavam ao redor pararam imediatamente e me encararam, rindo como se esperassem um espetáculo. Eu conhecia bem essa cena. Na outra realidade, ele adorava me mandar como se eu fosse uma serva sempre à sua disposição.
Fiquei imóvel, pisando sobre os cascalhos no chão.
— Você que deixou cair, pegue você mesmo. — Respondi com a voz calma.
De repente, o campo de treinamento ficou em silêncio. Até o vento pareceu parar.
— O que você disse? — Caio ergueu os olhos, com a fúria transbordando.
Um assovio soou e alguém debochou:
— Eva, está inventando moda para chamar a atenção do Caio? Dias atrás você se arrastava atrás dele, e hoje está se fazendo de difícil?
— Todo mundo sabe que você é a cadelinha do Caio. — Outro disse, rindo. — Vive atrás dele. Não tem medo de que seu falecido pai ache isso vergonhoso?
Nesse momento, ouvi passos na entrada do campo. Lina, mancando, usando uma saia clara de pele de animal, com a barra suja de sangue e terra, se aproximou.
Ela pegou a lâmina com esforço e a entregou para Caio.
— Caio, aqui está a sua espada. — Disse, rangendo os dentes.
Ao entregar a espada, seus dedos tremiam de dor, e pequenas gotas de suor frio escorriam de sua testa.
Os olhos de Caio se arregalaram, ele agarrou o pulso dela.
— Eu disse para você focar em se recuperar. Quem mandou você sair correndo? — A raiva na voz dele foi substituída por preocupação instantaneamente.
Ele então se virou para mim, com o olhar ardendo em fúria.
— Olha para ela! Mesmo com a perna machucada, me ajudou e pegou a espada. E você? Ficou aí parada, só assistindo, completamente sem noção! — Ele deu uma risada debochando. — Acabou de ver o meu pai, não é? Está tentando usar o fato de que seu pai uma vez defendeu ele com a própria vida para se fazer de coitada e implorar para se casar comigo? Eva, você não acha isso nojento? Fica brincando de coitada, usando todos os meios possíveis só para se casar comigo.
— Não. — Apertei a manga, mantendo a voz calma e firme. — O Alfa me chamou para dizer que quer organizar pessoalmente a minha cerimônia de maioridade.
Assim que falei, o campo de treinamento explodiu em comentários.
— O Alfa vai organizar pessoalmente sua cerimônia de maioridade?
Todos imediatamente se voltaram para Caio, com a voz transbordando elogios:
— Parabéns, Caio! O Alfa valoriza muito a Eva, está claro que ele quer você como herdeiro!
— Não se esqueça da gente depois que virar Alfa!
Caio, levado pela vaidade com o elogio, levantou levemente o queixo.
— Mesmo assim, algumas coisas precisam ficar claras. — Ainda assim, ele me alertou, com a expressão séria. — Se realmente nos casarmos, não se meta na minha vida e na da Lina. Faça bem o seu papel e fique no seu lugar. Caso contrário... — Ele fez uma pausa, e o seu olhar ficou ainda mais intenso. — Eu jamais vou me casar com você, a menos que você queira repetir os mesmos erros.
Senti meu coração dar um pulo.
O que ele quis dizer com isso?
Será que ele também voltou no tempo?
Depois disso, Caio pegou Lina cuidadosamente no colo, sem olhar para trás, e saiu, deixando o lugar repleto de risadas e cochichos.
Observei ele se afastar e sorri baixinho.
Perfeito.
Afinal, não era com ele que eu ia me casar.