No dia da cerimônia da maioridade, Caio chegou atrasado acompanhado por Lina. O canto dos lábios dela ainda tinha resquícios de mel, no pescoço dele, as marcas estavam frescas e vermelhas.
Os lobos presentes trocaram olhares cúmplices. Todos sabiam o que os dois haviam feito antes de chegar.
Na vida passada, eu teria explodido de raiva, e rasgado suas caras-de-pau e exigido explicações para tanta humilhação no dia da minha cerimônia. Mas, desta vez, apenas desviei o olhar como se nada tivesse acontecido.
Caio percebeu que meu olhar permaneceu sobre eles por alguns segundos e, instintivamente, puxou Lina um pouco para trás como se quisesse protegê-la.
Quando notou que eu não ia reagir, ele ficou desconfortável e forçou um sorriso debochado.
— Eva, não me diga que está fingindo ser generosa só porque está com medo de eu não me casar com você? Parece que hoje você vai se comportar. Que tal... — Ele baixou a voz de repente, e seu olhar percorreu meu corpo de forma descarada, carregado de malícia. — esperar nas fontes termais atrás da montanha depois da cerimônia? E lembre-se, não vista nada. Se seu corpo for bom o suficiente, talvez eu seja generoso e deixe você passar uma noite na minha cama.
Lina imediatamente fez beicinho, puxando a manga dele.
— Caio, como pode falar assim? Por acaso o meu corpo não é melhor que o dela? — Disse com um tom ressentido.
Caio abriu um sorriso e apertou a bochecha dela:
— Claro que você é mil vezes melhor que ela. As fontes termais foram preparadas especialmente para você. Até mandei colocar pétalas na água, só esperando seus ferimentos recuperarem para poder mergulhar.
Lina sorriu e, ao virar o rosto, lançou-me um olhar provocador.
Os lobos ao redor explodiram em gargalhadas, assobios e palavras obscenas.
Os sons ásperos funcionaram como um gatilho, me lembrando de tudo o que aconteceu na outra realidade. Naquela época, ele também fazia o mesmo, me tratava como um brinquedo, alvo de deboche, na frente de todos. Eu tremia de raiva, mas abraçado a Lina, ele ria ainda mais alto, dizendo que a minha expressão envergonhada era o que mais o divertia. Quando alguém tentava me defender, ele apenas zombava, chamando-me de vadia que se entregava de graça.
"Que perda de tempo." Pensei, virando-me para sair.
Mas Caio estendeu o braço me bloqueando.
— Vai continuar fingindo? — Ele agarrou meu pulso com tanta força que parecia querer esmagar meus ossos. — Uma mulher como você não consegue esconder a indecência que tem no sangue.
— Tenha algum respeito, Caio. — Eu afastei minha mão bruscamente, com os dedos rígidos de tensão.
— Respeito? — Ele arqueou as sobrancelhas, como se tivesse ouvido a maior piada do mundo. — Não era você que, para se casar comigo, estava disposta até morrer? No fim, você vai acabar na minha cama de qualquer jeito. Para que esse teatro de donzela pura?
— Quem disse que é você quem eu quero como marido? — Perguntei.
Assim que minhas palavras ecoaram, o silêncio tomou conta do lugar. Poucos segundos depois, as gargalhadas explodiram. Caio foi quem riu mais alto.
— Não quer casar comigo? Então com quem você pretende se casar? Todos da alcateia Lua Prateada sabem que você faria qualquer coisa por mim, até arriscar a própria vida. Ou será que você está pensando em casar com o Carlos? — Ele riu ainda mais, como se tivesse ouvido uma piada absurda. — Meu irmão mais velho passa os anos treinando na Floresta Negra. Todos sabem que ele é violento. Há pouco tempo, ouvi dizer que ele esfolou um membro da alcateia Lobo cinzento que o desafiou, e pendurou a pele deles nos galhos de uma árvore. Quer casar com ele porque está com pressa de morrer?