Eu estava sentada perto do balcão da cozinha, com os cotovelos apoiados na bancada e as mãos entrelaçadas, tentando acalmar a inquietação que dançava no fundo do meu peito. Os pensamentos vinham e iam como ondas: a chegada do bebê, a visita dos meus pais, o futuro incerto... tudo se misturava em uma maré de ansiedade. Estávamos na casa de Alice e Giovanni - uma mansão imponente, rodeada por um vasto gramado verde e árvores altas que se balançavam com a brisa da tarde. A decoração era acolhedora, cheia de detalhes elegantes e femininos que revelavam o toque carinhoso de Alice.Ela estava na cozinha, preparando um chá de camomila, com a leveza de quem conhecia bem os momentos em que eu precisava de algo quente nas mãos e uma escuta amiga. Tentei sorrir, mas minha voz saiu trêmula:- Meus pais me cobram por isso há anos... E agora que finalmente vai acontecer - vou apresentar o Adam a eles - eu estou grávida.Alice sorriu com doçura, enquanto despejava a água quente na xícara com movimen
Enquanto o avião dos meus pais se aproximava do aeroporto, meu coração batia com tanta força que parecia ecoar por todo o meu corpo. Uma mistura arrebatadora de ansiedade, saudade e felicidade me envolvia. Eles estavam prestes a chegar. Meus pais - pessoas simples, trabalhadoras, que sempre fizeram o possível para nos dar uma vida digna e cheia de amor - enfim pisariam em Londres, a cidade que me acolheu e transformou.Durante anos, sustentaram nossa família com sacrifício e união. Primeiro, foi meu irmão, Daniel, quem se mudou para cá. Depois, eu segui o mesmo caminho, cheia de sonhos e medo. E foi aqui, nesse solo frio e distante, que conheci Adam. Cinco anos se passaram desde nosso último abraço... e agora, além do reencontro, eu tinha uma grande novidade para dividir: eles conheceriam o homem da minha vida - e descobririam que, em breve, seriam avós.Enquanto meus pensamentos corriam soltos, observei Adam agachado diante de uma caixa aberta, organizando objetos que eu havia trazid
Eu estava radiante. Ainda tomada pela emoção do pedido de casamento de Adam, mal conseguia me concentrar nos detalhes enquanto me arrumava. Escolhi um vestido vermelho elegante, justo na medida, que valorizava meu corpo sem exageros. Meus cachos estavam soltos, caindo com naturalidade sobre os ombros, e optei por uma maquiagem suave - apenas um batom vibrante realçava meus lábios e refletia a intensidade do momento. Era o dia em que meus pais conheceriam Adam. O dia em que tantas histórias encontrariam seu ponto de encontro.Absorvida em pensamentos, nem percebi quando Adam entrou no quarto. Quando levantei os olhos, ele estava parado ali, me observando com a expressão de quem admira algo precioso, único.- Você é a mulher mais linda do mundo - ele disse, com um sorriso nos lábios e aquele olhar que sempre me desmontava.Um sorriso escapou do meu rosto. Aproximei-me, passei as mãos pelo seu pescoço e respondi com um tom divertido:- Não exagere. Eu não chego nem perto das supermodelos
Julia e Alice estavam em plena missão: encontrar o vestido de noiva ideal. O casamento se aproximava com a rapidez de um piscar de olhos desde que Adam, surpreendendo a todos, havia anunciado a data - e isso significava que cada segundo agora contava. Felizmente, Alice, em sua empolgação contagiante, parecia ter assumido o papel de madrinha organizadora com total dedicação. Ela já havia contratado uma equipe inteira para cuidar do noivado e, como se não fosse suficiente, providenciou até um avião particular para trazer os parentes de Julia diretamente do Brasil.Apesar da ajuda inestimável da amiga, Julia estava com o estômago embrulhado de ansiedade. A felicidade era real, mas o nervosismo não ficava atrás. Ao adentrar a luxuosa loja de vestidos de noiva - um ambiente digno de filmes românticos, com lustres de cristal cintilando, sofás de veludo branco e araras repletas de vestidos de alta costura - Alice brincou com o tom irônico que lhe era típico:- Achei que você queria se casar
O sol lançava seus raios dourados sobre o extenso campo da casa de veraneio, onde tudo estava preparado para o grande dia de Júlia e Adam. O céu azul parecia pintar um cenário celestial, enquanto a brisa leve fazia as flores do altar dançarem suavemente. As árvores altas ao redor projetavam sombras delicadas sobre os bancos de madeira perfeitamente alinhados, onde os convidados já começavam a se acomodar, trocando sorrisos e cumprimentos.Adam, de pé junto ao altar, usava um smoking preto impecável. Por fora, estava elegante, sereno. Mas por dentro, um redemoinho de emoções tomava conta de si. Nervosismo. Ansiedade. Amor. Era um homem que sempre acreditara que o destino não lhe reservaria uma família. Seu passado difícil, repleto de silêncios e ausências, o fez erguer muros altos ao redor do próprio coração. Mas então, Júlia surgira - e com ela, tudo mudara.Enquanto contemplava a decoração delicada, as flores brancas e lilases misturadas em arranjos finos, Adam foi tirado de seus pen
Dentro da casa de veraneio, Júlia permanecia em silêncio, sentada diante do grande espelho, o coração acelerado e as mãos úmidas de suor. Do lado de fora, tudo já estava pronto. O campo se estendia, pontuado por cadeiras elegantemente alinhadas, flores brancas e tons pastel emoldurando o altar. Convidados murmuravam em expectativa. Adam a aguardava, de pé, em frente ao arco decorado, envolto pela brisa leve daquela tarde dourada.Um aperto no estômago lhe lembrava que o grande momento estava próximo. Foi quando Alice se aproximou, segurou sua mão com ternura e disse, em tom sereno:- Eu sei que está nervosa agora, mas tudo vai acontecer como deve ser. Respire fundo, olhe para ele e apenas... vá. O resto vai se encaixar.Júlia abraçou a amiga com força.- Obrigada por tudo, Alice. Sei que, se não fosse você e Giovanni, nada disso teria acontecido. Eu e Adam talvez nem tivéssemos se conhecido. Houve erros... mas eu não mudaria nada se o final fosse esse.Alice desviou o olhar, tentando
Meses depoisO grande dia finalmente se aproximava. O momento que, por meses, povoara os sonhos e temores de Adam e Júlia. O bebê estava prestes a nascer.Adam estava inquieto. Nunca passara por algo assim. Sentia-se completamente despreparado, tomado por um nervosismo que beirava o desespero. Em contrapartida, Júlia parecia surpreendentemente calma. Apesar das contrações que já começavam a se intensificar, ela mantinha a serenidade.- Respira, Adam. Vai dar tudo certo. Só precisamos ir para o hospital. - disse ela, com uma expressão firme, mas tranquila.Enquanto ela falava, Adam corria de um lado para o outro pela casa, tentando reunir tudo o que haviam separado para a maternidade: malas, documentos, mantas, lembrancinhas. Era um caos cômico. Júlia, mesmo entre contrações, riu baixinho ao vê-lo tão atrapalhado. Pegou calmamente as chaves do carro e caminhou até a porta. Adam surgiu no corredor, carregando as sacolas.- Como você consegue estar tão tranquila? - ele perguntou, quase i
Giovanni ManciniAntes de sair de casa, eu sempre fazia uma pausa. Apenas alguns minutos, parado na varanda, absorvendo a beleza silenciosa de Alessandria. Era uma cidade pequena, escondida no coração da Itália, mas seus campos se estendiam como mares verdes, e as colinas douradas ao longe brilhavam sob o sol da manhã como se guardassem segredos antigos. Era impossível não se perder naquele cenário - mesmo que por breves segundos.Minha família era dona de um dos maiores vinhedos da região. Tínhamos terras, tradição e um nome que carregava respeito... e rancor. Porque onde havia riqueza, havia disputa. E essa vinha de muito antes de mim. A rivalidade com os Giordano era antiga, cega e inútil - mas ainda assim, mortal.Eu não queria parte nisso. Não mais. Quando criança, meu irmão e eu presenciamos os horrores que esse orgulho envenenado causava. Perdi meu tio Álvaro por causa de uma vingança mal curada, uma morte fria e anunciada. Um ciclo de ódio herdado de geração em geração - tanto