Sentado em minha cadeira de couro, atrás da imponente mesa de vidro, deixo o olhar se perder no vazio à minha frente. O cenário ao redor é silencioso, quase impenetrável, mas dentro de mim, o caos reina. Minha mente está longe - em outro lugar, em outro tempo. Está com ela. Com Alice.A última missão havia sido bem-sucedida. Ela está segura, por enquanto. Mas deixá-la foi, sem dúvida, a decisão mais difícil da minha vida. Eu havia prometido a mim mesmo que não me apegaria, que manteria a racionalidade intacta. Afinal, Alice é a filha de Luca Giordano, o homem que destruiu tudo o que um dia eu amei. A ironia de me apaixonar justamente por ela é cruel demais para ser real - e, ainda assim, aqui estou, afogado nesse sentimento.Desde pequeno, fui ensinado a não alimentar o ódio que corroía nossas famílias. Acreditava, com uma fé quase infantil, que eu poderia quebrar esse ciclo. Mas o destino riu da minha esperança. Vi minha família ser exterminada sem piedade, e naquele instante, o peso
Há três meses estou aqui, nesta pequena e modesta cidade da Grécia, onde leciono idiomas para um grupo seleto de alunos curiosos. O lugar é tranquilo, quase bucólico, com ruas de pedra, varandas floridas e cafés onde os moradores se cumprimentam pelo nome. Mas mesmo em meio a tanta beleza, minha alma parece sempre incompleta. Desde que Giovanni partiu, um vazio se instalou dentro de mim - silencioso, constante. Como uma sombra que me segue, mesmo sob o sol mais claro.Ele prometeu que voltaria. Ou ao menos ligaria. Mas o tempo passou, e o silêncio foi tudo o que recebi. Tentei me convencer de que estava ocupado, que havia voltado a cuidar dos próprios fantasmas. Afinal, a vida dele é feita de conflitos e responsabilidades que eu mal compreendo. Mas todas as noites, quando termino minhas aulas e volto para casa, encontro apenas a solidão me esperando atrás da porta. E então minha mente me trai, retornando para o último dia que passamos juntos.Neste momento, estou sentada no sofá do me
Era uma noite fria e silenciosa em Londres. As ruas estreitas dos subúrbios, mal iluminadas e cercadas por edifícios decadentes, serviam como o cenário sombrio para uma caçada que já durava três intermináveis meses. Adam e sua equipe estavam implacáveis em sua missão: capturar Luca - o homem que conseguira se esconder nas sombras, como um fantasma, sempre um passo à frente.Luca estava exausto. Seus olhos fundos e sua barba por fazer denunciavam dias mal dormidos e uma fuga constante. Sua jornada o levara até Londres, mas ele sabia que o tempo estava se esgotando. Othon, seu inimigo e antigo aliado, estava em seu encalço. E, além disso, havia outra obsessão: Alice. Ela havia desaparecido assim que ele chegou à cidade. Luca a procurava como um louco, convencido de que Giovanni - o homem que acreditava estar morto - era o responsável por seu sumiço. Não sabia que Giovanni havia mudado de nome, apagado seu passado e renascido como alguém que só queria protegê-la.Giovanni não apenas quer
GiovanniEstou ansioso. Uma ansiedade que pulsa como uma corrente elétrica sob minha pele. Meses de buscas incansáveis, noites em claro e um coração alimentado por revolta e luto me conduziram até aqui. Luca foi capturado. E só o pensamento dele atrás das grades acende em mim um turbilhão de sentimentos - raiva, mágoa, um alívio amargo. É como estar à beira de uma tempestade que fui forçado a suportar por tempo demais.Às vezes, me pego lembrando de um tempo que parece pertencer a outra vida. Dias em que o sol tingia o céu de tons alaranjados e eu ia para o trabalho com um sorriso no rosto, acreditando que minha existência estava completa. Mas tudo desmoronou em questão de horas.As lembranças vêm com violência, afiadas como lâminas. Vejo o vinhedo ao longe, silencioso demais. Lembro das luzes apagadas, da brisa fria que correu pela minha espinha quando comecei a correr, sentindo que algo estava errado. O pavor tomou conta do meu corpo antes mesmo de ver o que havia acontecido. Mas na
Giovanni estava inquieto. A ampla sala no último andar do edifício espelhado em Londres, com sua vista panorâmica da cidade nublada, não lhe oferecia consolo naquela manhã fria. Sentado à frente de uma imensa parede de vidro, sua mente fervilhava com uma mistura perigosa de euforia, preocupação e angústia. A captura de Luca havia sido concluída, e o homem estava sob vigilância rigorosa em um esconderijo confidencial. Mas, apesar disso, Giovanni não encontrava paz.Seu coração e seus pensamentos pertenciam a um nome que ecoava silenciosamente dentro dele: Alice.Ela era a contradição viva em sua existência. A filha do homem que havia destruído sua vida. E, ainda assim, a única que conseguia acalmar o caos que existia dentro dele. Giovanni compreendia o medo que ela carregava. Sabia da sombra que Luca projetava sobre ela. E por isso havia tomado a decisão de afastá-la, de escondê-la em segurança sob uma nova identidade, em um país distante.Mas agora, o silêncio de Alice o consumia.Tud
Júlia mal conseguia manter os olhos abertos quando finalmente chegou ao prédio onde morava. O dia fora exaustivo - o trabalho foi intenso, seguido por uma noite longa na faculdade. Seus músculos doíam e os pensamentos embaralhados se arrastavam junto com seus passos pelo corredor silencioso do prédio. O relógio marcava uma hora avançada da madrugada, e tudo o que ela desejava era uma cama e silêncio.Subiu as escadas com lentidão, cada degrau mais pesado que o anterior, como se o cansaço tivesse se acumulado em seus ombros. Quando chegou à porta do apartamento, soltou um suspiro longo, aliviado. Revirou a bolsa com mãos trêmulas até encontrar o molho de chaves. Com um movimento cansado, destrancou a porta e empurrou-a para dentro.Ao acender as luzes da sala, parou abruptamente. O coração quase saiu pela boca. Seus olhos se arregalaram em puro choque ao encontrar, sentado casualmente no sofá, Adam. Ele estava lá, tranquilo, como se fosse o dono do lugar.Júlia congelou. Como ele tinha
GiovanniEstava no meu apartamento - um refúgio silencioso e sombrio no último andar de um dos prédios mais luxuosos de Londres. A escuridão preenchia o ambiente como um véu espesso, rompido apenas pelas luzes da cidade que cintilavam do lado de fora, distantes e indiferentes à tempestade dentro de mim. A brisa gélida entrava pelas janelas escancaradas, cortando o calor artificial como se quisesse despertar algo que eu havia enterrado.Era sexta-feira. Mas isso pouco significava. Os dias perderam seus nomes desde o dia em que minha vida foi despedaçada. Permaneci de pé, parado diante do vidro, observando os carros em movimento e as pessoas em miniatura, vivendo vidas normais. O mundo lá fora seguia seu curso, ignorando o luto e a ruína que me consumiam.Pensei na razão que me manteve vivo por tanto tempo: vingança. A necessidade de ver Luca pagar por cada vida que destruiu - especialmente as da minha esposa e do meu filho. Por isso desapareci. Mudei meu nome, minha história, minha fac
AliceCinco anos depoisO vento suave atravessa a cortina branca, dançando pela sala e me alcançando enquanto estou parada diante da imensa janela de vidro. Do outro lado, o jardim se estende como uma pintura viva, com uma fonte clássica ao centro e canteiros floridos que exibem rosas de todas as cores imagináveis. Os raios dourados do sol tocam as folhas, fazendo-as brilhar como se o próprio tempo tivesse pausado ali.Estou serena, envolta num silêncio íntimo, acompanhando com o olhar minha filha, Maria, de cinco anos, correndo alegremente com a babá pelos caminhos de pedra do jardim. Ela ri com a leveza que só a infância conhece, e por um instante, parece que tudo está em paz.Cinco anos se passaram desde que minha vida deu uma reviravolta. Descobri verdades dolorosas sobre o meu passado, sobre a história sangrenta da minha família... e sobre Giovanni. Descobri os segredos que ele carregava como correntes, pesadas, sufocantes. E mesmo que aquilo tudo tenha despedaçado minha alma na