- Meu destino foi selado pelas decisões do meu pai... - murmurei. - Não gosto nem de chamá-lo assim.- Um verdadeiro pai nunca faria o que ele fez com você.Assenti, sentindo os olhos arderem.- Ele destruiu vidas. Me tirou do convento. Me arrastou para um lugar que eu odiava. E agora, a polícia o persegue... espero que um dia ele pague por tudo.- Você sabe alguma coisa sobre o que ele fez?Suspirei. O assunto era delicado demais.- Apenas o que minha tia me contou. Na época, eu ainda estava no convento. Não entendo por que ele me quis por perto, se sempre me tratou com tanto desprezo.- Ele vai pagar - Giovanni disse, com uma intensidade que me surpreendeu. Havia raiva em sua voz. Raiva verdadeira.- O problema agora é Othon. Ele tem dinheiro. Comprou meu silêncio. Comprou meu futuro. E agora está comprando minha caçada. É por isso que eu não quero envolver ninguém. Porque quem se aproxima de mim... corre perigo.- Eu não vou permitir que esse homem te toque - disse, pegando minha m
Adam estava sentado em sua sala, um dos cômodos mais discretos da imponente mansão dos Harris. Aquele espaço silencioso, com paredes revestidas em madeira escura e móveis clássicos, era seu refúgio desde que fora transferido para ali. Embora a decoração fosse refinada, refletindo a riqueza da família, a atmosfera carregava o peso invisível dos segredos e das dores acumuladas com o tempo.Os olhos de Adam percorriam distraidamente os detalhes do ambiente: o brilho discreto da lareira apagada, a biblioteca de volumes antigos, a poltrona onde tantas vezes havia adormecido de exaustão. Mas sua mente estava longe dali - mergulhada em lembranças que preferia esquecer.Lembrava-se com nitidez do dia em que tudo começou.Henry Harris, o tio de Giovanni, o havia convocado com urgência. Adam jamais se esqueceria do olhar de Henry naquela tarde - cansado, preocupado, marcado por anos de perdas. Giovanni, então com pouco mais de vinte anos, estava trancado no quarto do segundo andar, entre a vida
AliceEu estava tão perdida naquele país desconhecido que mal conseguia compreender como tudo tinha acontecido tão depressa. O calor úmido e tropical abraçava minha pele quando o jatinho pousou, e a ansiedade se espalhou pelo meu corpo como um incêndio. Ainda me perguntava como Giovanni - um homem que mal me conhecia - estava se sacrificando tanto por mim. Como ele poderia, de fato, resolver o caos que era minha vida?O trajeto de carro até a casa foi como cruzar uma pintura viva. A estrada era cercada por uma vegetação exuberante, com palmeiras que se curvavam suavemente com o vento quente. A paisagem parecia saída de um cartão-postal: o verde intenso das árvores, o céu de um azul vibrante, as cores vivas das flores tropicais balançando ao ritmo da brisa. Eu assistia tudo em silêncio, pela janela, sentindo que estava sonhando acordada - um sonho onde o desconhecido, por mais assustador que fosse, também era bonito.Quando finalmente chegamos à propriedade de Giovanni, um arrepio perc
Naquela tarde dourada, envolta pela luz morna do sol na ilha grega, Giovanni e Alice caminhavam lado a lado pela areia fina, com o som suave das ondas quebrando ao fundo como uma canção de fundo. O cenário era paradisíaco - o mar translúcido refletia tons de esmeralda e azul, enquanto o céu limpo começava a tingir-se com as cores do entardecer. Era difícil imaginar que, por trás daquele paraíso, havia tanto peso, tantas histórias não ditas.Giovanni mantinha o olhar firme no horizonte, mas por dentro, seus pensamentos fervilhavam. A beleza serena de Alice contrastava com as lembranças sombrias que ele carregava - lembranças que o haviam transformado no homem que era agora. Estava ali para protegê-la. Para esconder Alice dos homens que a queriam de volta, dos fantasmas que rondavam seu passado. Mas, a cada passo ao lado dela, seu propósito inicial começava a desmoronar. Não era mais apenas sobre protegê-la... era sobre estar com ela.Alice, por sua vez, sentia-se acolhida de um jeito q
Alice permanecia à beira da janela, observando o jardim mergulhado em sombras que dançavam sob o brilho prateado da lua. O vento morno da noite acariciava as folhas das palmeiras, balançando-as suavemente como se sussurrassem segredos antigos. Lá fora, tudo parecia em paz, mas por dentro dela, era um campo de batalha.O peso das decisões que precisava tomar era esmagador, como se cada pensamento a empurrasse mais fundo em uma encruzilhada. Os murmúrios abafados vindos da sala ao lado, onde Giovanni conversava com um homem que ela ainda não conhecia bem, só aumentavam sua inquietação. A indecisão queimava por dentro - e o medo de ser deixada à margem do próprio destino era maior que qualquer outra coisa.Seus pensamentos a arrastaram de volta àquele dia em que tudo começou. O primeiro encontro com Giovanni ainda parecia um borrão, envolto em tensão, adrenalina e surpresa. E, desde então, ela fora empurrada para dentro de um redemoinho de eventos que mal conseguia compreender. Mesmo ass
Cheguei ao quarto com os pensamentos em turbilhão, sem conseguir assimilar o que havia acabado de ouvir. O peso daquela descoberta pressionava meu peito como um ferro em brasa. Giovanni... ele era um Mancini?E mais do que isso - ele sabia quem eu era, desde o começo?Minha mente gritava em busca de respostas. Cada lembrança com ele agora parecia se revestir de uma nova camada de dúvida. Tudo que vivi ao seu lado... foi real? Ou apenas um teatro cuidadosamente montado?As pernas bambas me levaram até o banheiro, um espaço amplo e luxuoso, silencioso demais para quem carregava tanto ruído por dentro.A sensação de desespero envolveu meu corpo como um manto gelado. As lágrimas começaram a cair sem que eu pudesse conter, quentes contra a minha pele fria. Minhas mãos tremiam descontroladamente, e o coração batia tão rápido que parecia tentar escapar de dentro do peito. O mundo ao meu redor parecia desfocado, instável, como se estivesse se despedaçando sob meus pés.Eu estava perdida - não
Alice estava inquieta. A tensão dos últimos acontecimentos ainda pulsava em seu peito como uma ferida aberta. Giovanni parecia carregar o peso de um passado cheio de dor e arrependimento - e mesmo sem ele confessar tudo, ela podia ver isso em seus olhos, nas pausas que fazia antes de responder, nos silêncios longos demais.Ela o compreendia. Como não entender alguém que havia sido ferido por Luca, o mesmo homem que destruiu a vida dela de tantas formas? Alice só queria esquecer, apagar tudo e recomeçar... mas não era tão simples. O passado a seguia como uma sombra, mesmo ali, longe de tudo, em outro país, cercada pela beleza das paisagens gregas.Do outro lado da parede, Giovanni encarava o céu noturno pela ampla janela do quarto. As estrelas cintilavam com tranquilidade, contrastando com o caos que se agitava dentro dele. Sua mente não encontrava repouso. Estava exausto. Sentia que havia perdido o controle do plano que traçara com tanta frieza.Seu coração ainda pertencia a Polina -
Alice despertou lentamente, sentindo o toque macio dos lençóis de linho ao seu redor, enquanto os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas translúcidas da imensa suíte da mansão na Grécia. A luz dourada beijava seu rosto com delicadeza, como se quisesse sussurrar promessas de um novo começo. Mas, no fundo, ela sabia que aquele dia traria desafios e transformações inevitáveis. Uma inquietação lhe apertava o peito, como se algo estivesse prestes a mudar - e não necessariamente para melhor.Ela se virou na cama, encarando o teto alto adornado com detalhes clássicos, enquanto pensamentos nebulosos percorriam sua mente. Giovanni. Aquele homem que invadira sua vida sem ser convidado, que havia lhe causado confusão e medo, agora a desarmava com sua vulnerabilidade. Na noite anterior, Alice havia enxergado sua alma. Viu sua dor, sua verdade - e isso mudou tudo. Agora, ela temia perder aquilo que mal havia começado a compreender. Não era o fim que ela desejava.Ele a amava, disso ela nã