Capítulo 128
Vinícius Strondda
A manhã nasce lenta, quase respeitosa.
O sol ainda não está alto quando saímos da casa. O ar carrega sal, vento frio e aquele silêncio estranho que só lugares afastados têm — como se o mundo estivesse suspenso por algumas horas antes de lembrar que é cruel.
Lucia anda ao meu lado.
Esse detalhe diz mais do que qualquer palavra.
Ela veste algo simples, cabelo solto, óculos escuros pendurados no decote. Parece distante do caos que nos cerca. Parece… normal. E isso, pra mim, sempre foi mais perigoso do que qualquer arma.
Caminhamos por uma rua estreita que desce até a pequena vila costeira. Casas baixas, janelas coloridas, cheiro de café fresco escapando de algum lugar. Gente comum. Vida comum.
Eu mantenho a mão dela na minha.
Não porque preciso, mas porque quero.
Ela percebe. Sempre percebe.
— Você anda segurando minha mão como se fosse perder — diz, sem olhar pra mim.
— Não sou eu que perco as coisas — respondo.
Ela sorri