Senhora Irma, eu…
Irma! – corrigiu-me de imediato, levantando o indicador e apontando para minha cara. – Prossiga, Maria Christine. Eu já entendi a sua, e não se preocupe, isso não vai sair daqui.
Como também o que eu acabei de ver! – rebati, ainda chocada com a cena anterior.
Não precisa se preocupar. George vai amanhã para a Flórida. Nós já terminamos.
Tá, mas… e o meu irmão?
Seu irmão se recusa a sair da casa da tal Donna. É por isso que amanhã você vem comigo. Ela precisa ver você. Quanto às dívidas, já estão todas resolvidas. Não existe mais nada pendente. Mas preciso te informar que…
O quê?
Vendi a vossa casa.
As palavras me atingiram como uma facada. Ela tinha feito o quê? Olhei para Irma incrédula, sem reação. Senti minha garganta fechar e, incapaz de dizer qualquer coisa, apenas me levantei e saí.
Na manhã seguinte, como combinado, voltamos para minha antiga casa. Foi um choque. Tive que responder a perguntas de vizinhos curiosos e enfrentar Donna, a quem Irma pagou tostão por tostão.
No fim, Rafael voltou comigo, mas não sem um peso: Irma deixou claro que ele não poderia morar comigo. Doeu profundamente, mas eu sabia que ela tinha razão.
Meu irmão não podia crescer carregando a imagem de uma irmã que, cedo ou tarde, seria vista como uma vagabunda.
Eu o amava demais para ser a causa de um trauma tão grande. Já bastava a dor que nossa mãe lhe deixara.
Se eu também o decepcionasse, ele jamais voltaria a confiar em uma mulher. Assim, com o coração em pedaços, aceitei a decisão. Rafael foi enviado para um internato nos Estados Unidos, especializado em pessoas com necessidades especiais.
Demorou uma semana para convencê-lo, e só consegui porque fui completamente sincera. Rafael odeia mentiras, e nesse momento percebi algo lindo: meu irmão é independente, consciente e muito mais forte do que eu imaginava. Isso me encheu de orgulho, mesmo na dor da despedida.
Agora já faz três semanas que moro no casarão, como chamamos essa imensa mansão.
Minha vida mudou completamente. Tenho aulas de etiqueta, idiomas, moda e até português — minha própria língua, que tanto mal falo. Fiz amizades verdadeiras, perdoei Atina, e Irma… ah, Irma não é só professora. Ela é guia, conselheira, quase uma mãe para todas nós.
Somos treze meninas, tratadas como irmãs. E, pasmem, cada uma de nós tem direito a uma herança avaliada em milhões.
Ainda não fui enviada a nenhum programa, por isso sigo virgem. Mas, para falar a verdade, já não sinto tanto medo. Ouço tantas histórias das outras que não sei se dentro de mim existe medo ou curiosidade pelo que inevitavelmente virá.
Hoje é sábado, dia livre. Eu tinha escolhido ficar no inglês, mas Irma entrou de repente na sala, interrompendo nossa conversa.
Vamos! Hoje é dia de inglês, mas vocês três… vêm comigo.
Com você? Para onde? – perguntei surpresa, e as outras também arregalaram os olhos.
SPA. Tirando você, baby… as outras terão a noite ocupada.
Senti uma mistura de nervosismo e expectativa. Corremos para trocar de roupa, arrumar o cabelo, e em poucos minutos saímos do casarão como adolescentes prestes a viver algo novo. Era a minha primeira vez fora dali desde que cheguei.
Entramos primeiro numa boutique chiquérrima. Provei roupas que nunca imaginei vestir. Depois fomos para o SPA, onde recebi massagens relaxantes, cuidados de pele e até um ativador que transformou meu cabelo em cachos perfeitos. Saí de lá outra mulher, morena e cacheada, como jamais havia sido antes.
Entre risadas, fotos e sacolas de compras, voltamos para o casarão. Achei que o dia terminaria ali, mas Irma nos levou para um lugar que nunca tinha visto dentro da casa. Um salão cheio de câmeras, microfones, espelhos iluminados e equipamentos de fotografia. Cada detalhe brilhava, como se fosse um cenário preparado para outra versão de nós mesmas.
Meu coração acelerou. Olhei ao redor, maravilhada e temerosa ao mesmo tempo.
M.G? – a voz de Irma soou firme.
Sim, Irma? Precisa de mim para alguma coisa?
Sim. Hoje você termina seu cadastro. Está pronta, já transformada. Vai começar no quarto de sessões fotográficas. Precisa tirar suas roupas e posar para Duca.
Aquela frase caiu sobre mim como uma sentença. O dia em que eu tanto temia — e talvez, secretamente, esperasse — havia chegado.