Enquanto Annya e seu pai se aproximavam, a Rainha Beatrice — majestosa em seu vestido de veludo azul-escuro, bordado com fios dourados que cintilavam suavemente à luz dos lustres — ergueu-se de seu assento, abrindo um sorriso caloroso que iluminou ainda mais o ambiente. — Então esta é a jovem Annya! — exclamou Beatrice, a voz cheia de alegria genuína. — Ouvi tanto falar de você que sinto como se já a conhecesse pessoalmente. Venha, minha querida! Annya sorriu, um pouco tímida diante de tamanha recepção, mas realizou uma reverência elegante antes de se aproximar. — Espero que tudo o que ouviu tenha sido bom, majestade — disse Annya, com uma pitada de humor na voz, tentando aliviar a tensão que sentia. — Ou terei que defender minha honra aqui mesmo. A Rainha soltou uma risada melodiosa, sem o menor resquício de formalidade rígida. — Oh, não se preocupe! Tudo o que ouvi foi maravilhoso! — respondeu Beatrice, inclinando-se um pouco para frente, como quem partilha uma travessura. — Ma
— Quer que a escultura tenha mais ou menos que tamanho? — perguntou rynriel, seus olhos atentos fixos no príncipe Noctis. Seu tom era calmo, porém firme, como o de alguém que leva a sério cada obra que cria. — E pela sua descrição, seis moedas de bronze é o preço de uma peça pequena. O príncipe Noctis sorriu, demonstrando genuíno apreço pela atenção cuidadosa de rynriel. Havia algo reconfortante naquela simplicidade direta, algo que lhe fazia lembrar das épocas em que suas responsabilidades ainda não o haviam consumido. — Sim, exatamente. — respondeu Noctis, a voz firme e clara. — Quero que a águia seja uma peça impressionante, com detalhes precisos nas penas, nas garras… nas asas abertas como se estivesse prestes a alçar voo. Algo que capture a essência da liberdade. rynriel anuiu, as sobrancelhas franzidas em concentração, como se já visualizasse a peça à sua frente. Ele segurou o bloco de madeira com uma leveza hábil, girando-o entre os dedos, avaliando suas possibilidades. — E
Chegamos ao salão de jantar exatamente no momento em que os criados começavam a servir as primeiras travessas, e o aroma delicioso de carnes assadas, pães frescos e ervas aromáticas invadiu o ar, provocando uma reação quase imediata: meu estômago roncou alto, arrancando de mim uma expressão de leve embaraço. As grandes portas do salão estavam escancaradas, revelando um espaço majestoso: o teto era alto, sustentado por colunas de mármore branco, e tapeçarias douradas, bordadas com cenas da história de Heits, adornavam as paredes. Um longo tapete carmesim corria pelo centro do salão, conduzindo até a mesa, que se estendia como um rio de prata e cristal. Candelabros pendiam do teto, lançando uma luz dourada e suave sobre os rostos ali reunidos. Encontramos nossos lugares à mesa, guiados por um criado que anunciava nossos nomes com voz cerimoniosa. No entanto, a atmosfera, ao contrário da formalidade inicial, logo se tornou descontraída. Minha irmã Annya, com sua facilidade natural para
Acordar naquela manhã tinha sido uma luta. Meu corpo inteiro doía, como se os sonhos da noite anterior tivessem sido tão intensos que se transformaram em pesos sobre meus músculos. Tive sonhos lúcidos, vívidos demais, onde imagens de portas douradas, florestas antigas e vozes distantes assombravam minha mente. Mesmo acordada, essas memórias pairavam no ar como uma névoa persistente, tornando difícil separar o que era real do que era ilusão. Suspirei fundo, tentando espantar o cansaço. Hoje seria um dia movimentado, o chamado “encontro amigável” organizado pela realeza — mas todos sabiam que, na prática, tratava-se mais de um grande baile de exibição, um evento para selar alianças, impressionar convidados e, claro, manter as aparências impecáveis. Fui até a janela do quarto, afastando suavemente as cortinas. De onde eu estava, podia ver uma parte do jardim do castelo. Era um cenário de constante movimento: jardineiros carregavam vasos pesados, posicionando-os com precisão matemátic
Passamos a manhã e boa parte da tarde nos preparando para a tão esperada “pequena conversa” — um nome modesto para algo que, nitidamente, era muito mais grandioso do que se queria fazer parecer. Meu quarto se transformou num verdadeiro camarim improvisado: vestidos dispostos sobre a cama, acessórios espalhados em cima da penteadeira, perfumes e maquiagens misturados como uma paleta viva de intenções. Sentei-me diante do espelho, concentrando-me em meu reflexo. Caprichei no cabelo, como nunca antes. Trancei cada mecha com cuidado, deixando-as se entrelaçarem com delicadeza até formar um coque alto e firme, preso por pequenos grampos dourados. O penteado conferia-me uma postura elegante, e a visão me surpreendeu: havia em mim um traço de nobreza que até então desconhecia. Escolhi uma calça de tecido leve e macio, ajustada ao corpo de maneira que realçava minhas curvas sem ser excessiva. Ela era de um azul profundo, como o céu noturno sem estrelas. Para a parte superior, optei por uma
Pela primeira vez desde que chegamos ao jardim, avistei o rei de Heits. Ele estava em um dos pontos centrais da festa, uma figura imponente que parecia dominar o espaço ao seu redor sem esforço. Seus trajes, de um azul profundo bordado com fios dourados, reluziam sob as luzes penduradas entre as árvores, e mesmo entre tantos líderes poderosos, era impossível não notar sua presença. Observei em silêncio, notando o porte firme, o olhar aguçado, o modo como as pessoas se inclinavam levemente ao se dirigir a ele. O príncipe Noctis, sem dúvida, herdara essa mesma presença marcante, embora a juventude ainda emprestasse a ele um ar mais maleável, quase encantador. Mesmo assim, algo me incomodava. Desde que descemos para os jardins, senti os olhares pesando sobre nós. Era como se estivéssemos sob constante escrutínio, avaliadas a cada gesto, cada palavra, cada sorriso. A maioria das pessoas ali eram humanos — incluindo, claro, os anfitriões —, mas também havia representantes de outras raças
Depois de uns longos minutos esperando pelo príncipe Noctis, sentada sozinha àquela mesa isolada, senti a inquietação crescer dentro de mim como uma erva daninha. Meus olhos percorriam o jardim, tentando disfarçar o incômodo. Já era o bastante. Levantei-me com um suspiro, alisando a calça de tecido leve que usava, e comecei a caminhar sem rumo definido. Talvez uma volta pelo jardim acalmasse minha mente. O sol, em seu lento declínio, lançava uma luz dourada e quente sobre o jardim, tingindo as flores e árvores de tons alaranjados e púrpura. O perfume doce das pétalas recém-desabrochadas se espalhava no ar, misturando-se com o aroma sutil da grama cortada e da terra úmida. O ambiente parecia tranquilo, quase onírico, como se fosse um recanto separado do resto do mundo. Caminhei por entre os canteiros decorados, sentindo a brisa suave brincar com as mechas soltas do meu cabelo. Pequenas fadas-luz — insectoides encantados, comuns nos jardins mais antigos — flutuavam entre os arbustos,
De longe, o rei Lucius Castas de Heits observava a família Norton se afastando do jardim. Seus olhos, treinados e sagazes, captavam cada movimento, cada gesto tenso. Nada passava despercebido à sua percepção aguçada — o modo como Altair caminhava adiante das filhas, como sua mão direita, fechada em punho, vibrava discretamente de frustração. A maneira como Kaelara lançava olhares furtivos para trás, como se relutasse em partir. Lucius podia sentir a tempestade não dita que pairava sobre aquela família, mesmo sem ouvir uma única palavra. Ao seu lado, passos apressados soaram contra o solo de pedras lisas. O príncipe Noctis aproximava-se rapidamente, a expressão no rosto jovem uma mistura de confusão, irritação e, acima de tudo, incompreensão. — Pai — chamou ele, sua voz ansiosa quebrando o breve silêncio que pairava entre eles. Lucius não respondeu de imediato, preferindo manter os olhos fixos nas costas cada vez mais distantes dos Norton. O vento agitava as vestes cerimoniais do re