Lia Perroni
O clique seco do telefone ecoou em meu ouvido, reverberando o terror que se instalara em meu peito. Marcelo havia desligado, deixando para trás um vazio gelado e a certeza de que minha vida havia se tornado um pesadelo ainda pior. Suas palavras cruéis e diretas pairavam no ar, cada sílaba um prego na tampa do caixão da minha esperança. "Sozinha... sem polícia... ou nunca mais verá a Esmel." A ameaça era clara, cortante como uma lâmina.
O medo paralisante começou a se dissipar, dando lugar a uma fúria fria e desesperada. Eu faria qualquer coisa pela minha filha. Qualquer coisa. A imagem do rosto assustado de Esmel apagou qualquer resquício de dúvida ou hesitação. Eu iria. Sozinha. Como ele exigiu.
Com as mãos trêmulas, disquei o número de Luz. Precisava contar a ela, mesmo que Marcelo tivesse proibido. Ela era minha única amiga, minha única família ali.
— Luz, preciso que venha para cá agora — minha voz saiu embargada, lutando contra as lágrimas que ameaçavam transbordar no