Lia Perroni
Vesti minhas roupas com movimentos lentos e pesados, cada peça um lembrete amargo da minha traição. Saí do motel, o sol da tarde castigando minha pele como se quisesse expor minha culpa. Cheguei em casa, o vazio me engolindo assim que fechei a porta atrás de mim. Estava arrasada, o corpo exausto e a alma em frangalhos. Não tinha ninguém a quem recorrer. Luz havia partido para uma excursão pela faculdade, e Esmel, radiante com a tarde no shopping, decidira de última hora dormir na casa da sogra de Amanda.
O silêncio da casa ecoava meus próprios tormentos.
Levantei-me do sofá, onde havia me jogado assim que cheguei, e fui para o banheiro, buscando algum conforto na água quente. Entrei debaixo do chuveiro, deixando os jatos quentes massagearem meus músculos tensos, mas a imagem de Kairós se vestindo apressadamente, a dor e a raiva estampadas em seu rosto antes de ele atravessar aquela porta, ficava martelando em minha mente, como uma agulha incessante perfurando minhas