Ravena
A água quente da banheira me envolvia, mas o frio ainda estava lá... não do lado de fora, e sim dentro de mim. Meus ossos pareciam guardiões de um inverno antigo, e mesmo com o sangue quente em minhas veias, algo em mim ainda tremia.
Fechei os olhos, tentando escapar do desconforto. E então, fui puxada para longe, não com dor, mas com uma suavidade estranha, como se algo muito antigo em mim estivesse acordando.
E eu sonhei.
Na floresta onde cresci, os galhos dançavam ao som do vento e as sombras projetavam segredos no chão. Eu ainda era criança, talvez com cinco anos, um pouco mais jovem do que quando meus pais morreram. Meus pés descalços pisavam a terra úmida enquanto seguia uma trilha de flores que brilhavam com um tom azulado sob a luz do entardecer, as flores do rei, como minha mãe as chamava. Ela dizia que eram raras e perigosas, que não apareciam para todos, e que eu deveria evitá-las.
Mas aquelas flores sempre apareciam para mim, e elas me atraiam.
A trilha de pétalas