Celeste
O frio das montanhas esgueirava-se pelas dobras de sua capa, mas eu não se importava. O vento cortava como navalha contra o rosto, meus olhos marejados presos no horizonte escarlate que tingia o céu de sangue.
O pôr do sol parecia uma ferida aberta rasgando o firmamento.
Apertei os olhos.
Lá embaixo, os estandartes das alcateias unificadas tremulavam entre as árvores devastadas da clareira onde havia sido erguido o acampamento.
Os lobos de prata remanescentes moviam-se com lentidão, cansados demais para fingirem glória. Restavam poucos, muito poucos, desde a última ofensiva contra Northshore.
Aquela lembrança ainda era um espinho cravado sob a pele.
Alexander. O tolo... o presunçoso... o bastardo que nunca entendeu o peso do poder que carregava. Eu não o amava. Jamais amaria um macho como ele, obcecado por sexo, por selvageria, pelo cheiro de fêmeas no cio, pela ideia absurda de que era superior por ter nascido com o sangue prateado correndo nas veias.
Mas ele era útil.