lRavena
Não sei mais quantos dias se passaram desde que o mundo parou para mim.
Desde que vi o corpo do meu pai estirado, partido como se nunca tivesse sido um guerreiro. Desde que minha mãe caiu sem vida com os olhos ainda presos nos meus. Desde que minha irmã, Celeste, me lançou aquele olhar que jamais esquecerei; o de quem vê um monstro onde antes havia apenas uma irmã.
Não há mais calor no que antes foi o meu lar. Aquele lugar onde mamãe ria, onde papai me ensinava a caçar insetos no verão. Dizem que agora ela é só minha casa. Mas não é. Nada mais é meu. Não há lugar par mim.
Fui deixada aos cuidados de Olga, uma ômega velha, sem filhotes e com cheiro de alho e medo. Ela não falava comigo, evitava meus olhos. Me serve comida fria porque esperava que eu a procurasse quando minha barriga roncava. Mas escuto o som de suas preces durante a noite, em sussurros entrecortados, implorando a deusa da lua para mantê-la a salvo da “filhote amaldiçoada”.
Estava frio, aquele tipo de frio que n